INSTITUTO BÍBLICO CRISTÃO: A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO

A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO

A EXPIAÇÃO

E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão. Hebreus 9:22

A expiação é uma reconciliação de partes alienadas entre si, a restauração de um relacionamento rompido. A expiação é realizada por ressarcir os danos, apagando-se os delitos e oferecendo satisfação pelas injustiças cometidas.
A DOUTRINA DA EXPIAÇÃO
Podemos dizer que, a Expiação é o sacrifício que Jesus Cristo fez para ajudar-nos a vencer o pecado, a adversidade e a morte. O sacrifício expiatório de Jesus teve lugar no Jardim do Getsêmani e na cruz do Calvário. Ele pagou o preço por nossos pecados, tomou sobre Si a morte e ressuscitou. A Expiação é a suprema expressão do amor do Pai Celestial e de Jesus Cristo.
Segundo, E. Y. Mullins, The Christian Religion In Its Doctrinal Expression (A Religião Cristã em Sua Expressão Doutrinária), p. 311. Judson Press, Philadelphia, 1932. A expiação é um grande assunto com muitos lados. Pode-se abordá-la a partir de muitos ângulos. É fácil ser parcial e incompleto ao lidar com o material do Novo Testamento. Deve-se tomar cuidado para que se incluam todos os aspectos vitais do assunto. 

O termo
A palavra “expiação” ocorre só uma vez na versão do Rei Tiago em o Novo Testamento. Vide Romanos 5:11. Aqui está uma tradução de “katallage”. Este substantivo grego ocorre em três outras passagens: uma vez em Romanos 11:15, onde está traduzido “reconciliando”; uma vez em 2 Coríntios 5:18, onde está traduzido “reconciliação” e uma vez no verso seguinte, onde outra vez está traduzido “reconciliação”.
O verbo grego “katallasso”, correspondente ao nome “katallage”, acha-se também em 2 Coríntios 5:18,19; em Romanos 5:10 e 1 Coríntios 7:11. Em cada um destes casos está traduzido para significar “reconciliar”.
Segundo o uso do grego, a palavra “expiação” pode ser usada tanto da provisão da base objetiva de salvação, na qual temos uma expiação potencial, como da realização atual da salvação, na qual temos uma expiação atual na aplicação dos benefícios da morte de Cristo e a oferenda do Seu sangue no templo celestial.
O verbo grego “katallasso” está usado no primeiro sentido em 2 Coríntios 5:19, onde lemos: “Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo, não lhes imputando os seus pecados”. O sentido aqui é que Deus estava reconciliando o mundo Consigo mesmo por lançar os seus pecados sobre Cristo.

Teorias sobre a expiação

Teoria do Resgate pago a Satanás:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um resgate que foi pago a Satanás para comprar a liberdade do homem depois de ter sido seu escravo. Ela é baseada na crença de que a condição espiritual do homem é como um escravo de Satanás e que o significado da morte de Cristo foi para assegurar a vitória de Deus contra Satanás. Essa teoria tem pouco sustento bíblico (se é que tem qualquer sustento) e poucas pessoas defenderam essa opinião durante o curso da história da igreja. É herege porque acha que Satanás, e não Deus, foi quem exigiu o pagamento pelo pecado e completamente ignora as exigências da justiça de Deus como vemos nas Escrituras. Também tem uma opinião de Satanás ocupando uma posição mais alta do que a realidade e tendo mais poder do que ele realmente tem. Não há nenhum sustento bíblico para a idéia de que pecadores devem qualquer coisa a Satanás, e ao ler a Bíblia podemos ver que Deus é quem exige um pagamento pelo pecado.

Teoria da Recapitulação:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como uma ação para reverter o percurso da humanidade de desobediência a obediência. Ela acredita que a vida de Cristo resumiu todos os estágios da vida humana e ao fazer isso reverteu o percurso de desobediência iniciado por Adão. Essa teoria não tem nenhum sustento bíblico.

Teoria Dramática:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como tendo dois propósitos: assegurar a vitória em um conflito divino entre o bem e o mal, e ganhar a liberação do homem de sua escravidão a Satanás. O significado da morte de Cristo foi para assegurar a vitória de Deus contra Satanás e providenciar um caminho para redimir o mundo de sua escravidão ao mal.

Teoria Mística:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um triunfo de Cristo contra a Sua própria natureza pecaminosa através do poder do Espírito Santo. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que conhecimento dessa vitória vai influenciar o homem de uma forma mística e despertar sua “consciência de deus”. Eles também acreditam que a condição espiritual do homem não é o resultado do pecado, mas simplesmente uma falta de “consciência de Deus”. Claramente essa é umas das teorias mais hereges de todas, porque acreditar nessa teoria significa acreditar que Cristo tinha uma natureza pecaminosa. As Escrituras são bem claras ao declarar que Cristo era o perfeito Deus-homem e sem pecado em todo aspecto da Sua natureza (Hebreus 4:15).

Teoria de Exemplo:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um exemplo de fé e obediência para encorajar o homem a ser obediente a Deus. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que o homem é espiritualmente vivo e que a vida de Cristo e a Sua expiação foram simplesmente um exemplo de fé verdadeira e obediência e deve servir como inspiração aos homens a viver uma vida semelhante de fé e obediência. Essa e a teoria da influência moral são semelhantes, pois ambas negam que a justiça de Deus exige um pagamento pelo pecado e que a morte de Cristo na cruz foi o pagamento. A diferença principal entre a teoria da influência moral e a teoria de exemplo é que a primeira diz que a morte de Cristo nos ensina o quanto Deus nos ama e a segunda diz que a morte de Cristo nos ensina a viver. Claro que Cristo com certeza é um exemplo que devemos seguir, até mesmo em Sua morte, mas a teoria do exemplo deixa de reconhecer a verdadeira condição espiritual do homem- morto em delitos e pecado (Efésios 2:1) – e que a justiça de Deus exige pagamento pelo pecado, o qual o homem não é capaz de pagar de forma alguma.

Teoria de Influência Moral:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como uma demonstração do amor de Deus que causa o coração do homem a abrandar e arrepender-se. Aqueles que defendem essa teoria acreditam que o homem é espiritualmente doente e precisa de ajuda e que o homem é levado a aceitar o perdão de Deus ao ver o amor de Deus pelos homens. Eles acreditam que o propósito e significado da morte de Cristo foi demonstrar o amor de Deus pelos homens. Enquanto é verdade que a expiação de Cristo foi o exemplo supremo do amor de Deus, essa opinião também é herege porque nega a verdadeira condição espiritual do homem e nega que Deus realmente exige um pagamento pelo pecado. Essa teoria da expiação de Cristo deixa a humanidade sem um sacrifício verdadeiro e sem o pagamento pelo pecado.

Teoria Comercial:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como algo que traz honra infinita a Deus. Isso fez com que Deus desse a Cristo uma recompensa da qual Ele não precisava, e Cristo deu essa recompensa ao homem. Aqueles que defendem essa teoria acreditam que a condição espiritual do homem é uma que desonra a Deus e a morte de Cristo, a qual trouxe honra infinita a Deus, pode ser usada pelos pecadores para obter salvação. Essa teoria, como muitas outras, nega o verdadeiro estado dos pecadores não regenerados e sua necessidade de uma natureza completamente nova, disponível apenas em Cristo (2 Coríntios 5:17).

Teoria Governamental:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como demonstrando o quanto Deus valoriza Sua lei e como Ele encara o pecado. É através da morte de Cristo que Deus tem um motivo para perdoar os pecados daqueles que se arrependem e aceitam a morte substitucionária de Cristo. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que a condição espiritual do homem é uma de quem tem violado a lei moral de Deus e que o significado da morte de Cristo foi para ser um substituto pela penalidade do pecado. Porque Cristo pegou a penalidade do pecado, é possível que Deus perdoe legalmente aqueles que aceitam Cristo como seu substituto. Essa teoria falha em não ensinar que Cristo realmente pagou pela penalidade dos pecados reais de qualquer povo, e mostra ao invés disso que Seu sofrimento apenas mostrou à humanidade que as leis de Deus foram quebradas e que algum tipo de penalidade foi paga.

Teoria da Substituição Penal:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como sendo um sacrifício substitucionário que satisfez as exigências da justiça Deus sobre o pecado. Ao fazer isso, Cristo pagou a penalidade pelo pecado dos homens por trazer perdão, por imputar justiça e por reconciliar o homem a Deus. Aqueles que defendem essa teoria acreditam que todos os aspectos do homem - sua mente, vontade e emoções- têm sido contaminados pelo pecado. Também acreditam que o homem é espiritualmente depravado e morto. Essa teoria acredita que a morte de Cristo pagou a penalidade do pecado por aqueles que Deus elegeu e escolheu salvar, e que através de arrependimento o homem pode aceitar a substituição de Cristo como pagamento pelo seu pecado. Essa teoria se alinha com a Bíblia de uma forma mais correta em sua opinião do pecado, da natureza do homem e sobre os resultados da morte de Cristo na cruz.

A Expiação no Antigo Testamento
A doutrina da expiação tem suas raízes no Antigo Testamento onde é muitas vezes apresentada simbolicamente, e embora planejemos dedicar uma seção inteira à expiação conforme prefiguram os sacrifícios levíticos, será bom observar de passagem como se usa a palavra ali.
Por que gastar tempo e espaço para descrever os sacrifícios do Antigo Testamento? Pela simples razão de que na palavra "sacrifício" temos a chave para o significado da morte de Cristo. Muitas teorias modernas têm surgido para explicar essa morte mas qualquer explicação que deixe de fora o elemento da expiação é antibíblica, porque nada é mais assinalado no Novo Testamento que o uso de termos sacrificais para expor a morte de Cristo.

Descrevê-lo como "o Cordeiro de Deus", dizer que o seu sangue limpa o pecado e compra a redenção, ensinar que ele morreu por nossos pecados — tudo isso é dizer que a morte de Jesus foi um verdadeiro sacrifício pelo pecado. Visto que a morte de Jesus é descrita em linguagem que lembra os sacrifícios do Antigo Testamento, um conhecimento dos termos sacrificais ajuda grandemente na sua interpretação. Porque os sacrifícios (além de proverem um ritual de adoração para os israelitas) eram sinais ("tipos") proféticos que apontavam para o sacrifício perfeito; por conseguinte, um claro entendimento do sinal conduzirá a um melhor conhecimento daquele que foi sacrificado.

Esses sacrifícios não somente eram proféticos em relação a Cristo, mas também serviam para preparar o povo de Deus para a dispensação melhor que seria introduzida com a vinda de Cristo. Quando os primeiros pregadores do Evangelho declararam que Jesus era o Cordeiro de Deus cujo sangue havia comprado a redenção dos pecados, eles não precisaram definir esses termos aos seus patrícios, porquanto estavam eles familiarizados com tais termos.

Nós, entretanto, que vivemos milhares de anos depois desses eventos, e que não fomos educados no ritual mosaico, necessitamos estudar a cartilha, por assim dizer, pela qual Israel aprendeu a soletrar a grande mensagem da redenção, mediante um sacrifício expiatório. Tal é a justificação para esta secção sobre a origem, história, natureza, e eficácia do sacrifício do Antigo Testamento.

1. A origem do sacrifício.

(a) Ordenado no céu. A Expiação não foi um pensamento de última hora da parte de Deus. A queda do homem não o apanhou de surpresa, de modo a necessitar de rápidas providências para remediá-la. Antes da criação do mundo, Deus, que conhece o fim desde o princípio, proveu um meio para a redenção do homem. Como uma máquina é concebida na mente do inventor antes de ser construída, do mesmo modo a expiação estava na mente e no propósito de Deus, antes do seu cumprimento.

Essa verdade é afirmada pelas Escrituras. Jesus é descrito como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Apoc. 13:8). O Cordeiro Pascal era preordenado vários dias antes de ser sacrificado (Êxo. 12:3, 6); assim também Cristo, o Cordeiro imaculado e incontaminado, foi "conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vos" (1Ped. 1:19, 20). Ele comprou para o homem a vida eterna, a qual Deus "prometeu antes dos tempos dos séculos" (Tito 1:2).

Que haveria um grupo de pessoas santificadas por esse sacrifício, foi decretado "antes da fundação do mundo" (Efés 1:4). Pedro disse aos judeus que apesar de terem, na sua ignorância, crucificado a Cristo com mãos ímpias, sem dúvida haviam cumprido o plano eterno de Deus, pois Cristo foi "entregue pelo poder do conselho e presciência de Deus" (Atos 2:23). É evidente, pois, que o Cristianismo não é uma religião nova que começou há mil e novecentos anos, mas, sim, a manifestação histórica de um propósito eterno.

(b) Instituído na terra. Visto como centenas de anos haviam de passar antes da consumação do sacrifício, que deveria fazer o homem pecador? Desde o princípio Deus ordenou uma instituição que prefigurasse o sacrifício e que fosse também um meio de graça para os arrependidos e crentes. Referimo-nos ao sacrifício de animais, uma das mais antigas instituições humanas.

A primeira menção de um animal imolado ocorre no terceiro capítulo de Gênesis. Depois que pecaram, os nossos primeiros pais se tomaram conscientes da nudez física — o que era uma indicação exterior da nudez da consciência. Seus esforços em se cobrirem exteriormente com folhas e interiormente com desculpas, foram em vão. Lemos então que o Senhor Deus tomou peles de animais e os cobriu. Apesar de o relato não declarar em palavras que tal providência fosse um sacrifício, sem dúvida, meditando no significado espiritual do ato , não se pode evitar a conclusão de que temos aqui uma revelação de Jeová , o Redentor, fazendo provisão para redimir o homem.

Vemos uma criatura inocente morrer para que o culpado seja coberto; esse é o propósito principal do sacrifício — uma cobertura divinamente provida para uma consciência culpada. O primeiro livro da Bíblia descreve uma vitima inocente morrendo pelo culpado, e o último livro da Bíblia fala do Cordeiro sem mancha, imolado, para livrar os culpados de seus pecados (Apoc. 5:6-10).

2. A natureza do sacrifício.

Esta instituição original do sacrifício muito provavelmente explica por que a adoração expiatória tem sido praticada em todas as épocas e em todos os países. Apesar de serem perversões do modelo original, os sacrifícios pagãos baseiam-se em duas idéias fundamentais: (coração e expiação) O homem reconhece que está debaixo do poder de uma deidade tendo certos direitos sobre ele. Como reconhecimento desses direitos, e como sinal de sua submissão, ele oferece uma dádiva ou um sacrifício.

Freqüentemente, entretanto, tomando-se consciente de que o pecado perturba a relação, instintivamente ele reconhece que o mesmo Deus que o fez, tem o direito de destruí-lo, a não ser que algo seja feito para restaurar a relação interrompida. Uma das crenças mais profundas e firmes da antiguidade era que a imolação de uma vitima e o derramamento de seu sangue afastariam a ira divina e assegurariam o favor de Deus. Mas como aprenderam isso? Paulo nos diz que houve um tempo "quando conheciam a Deus" (Rom. 1:21).

Assim como o homem decaído leva as marcas da origem divina, também os sacrifícios pagãos levam algumas marcas de uma original revelação divina. Depois da confusão de línguas (Gên. 11:1-9) os descendentes de Noé espalharam-se por todas as partes, levando consigo o verdadeiro conhecimento de Deus, porquanto até então não havia registro de idolatria. O que ocorreu no transcurso do tempo é brevemente descrito em Romanos 1:19-32. As nações se afastaram da adoração pura de Deus e cedo perderam de vista sua gloriosa divindade.

O resultado foi a cegueira espiritual. Em lugar de verem a Deus por meio dos corpos celestes, começaram a adorar esses corpos como deidades; em vez de verem o Criador por meio das árvores e dos animais, começaram a adorá-los como deuses; em vez de reconhecerem que o homem foi feito a imagem de Deus, começaram a fazer um deus da imagem do homem. Desse modo a cegueira espiritual conduziu à idolatria. A idolatria não era meramente uma questão intelectual; a adoração da natureza, que é a base da maioria das religiões pagãs, conduziu o homem a deificar (fazer deuses de) suas próprias concupiscências, e o resultado foi a corrupção moral.

Todavia, apesar dessa perversão, a adoração do homem tinha leves indícios que indicavam ter havido um tempo quando ele entendia melhor as coisas. [Através das idolatrias do Egito, Índia e China, descobre-se uma crença em um Deus verdadeiro, o Espírito eterno que fez todas as coisas.] Quando a escuridão espiritual cobriu as nações, como a corrupção moral havia coberto o mundo antediluviano, Deus começou de novo com Abraão, assim como havia feito previamente com Noé. O plano de Deus era fazer de Abraão o pai de uma nação que restauraria ao mundo a luz do conhecimento e a glória de Deus.

No Monte Sinai, Israel foi separado das nações, para ser uma nação santa. Para dirigi-los na vida de santidade, Deus lhes deu um código de leis que governaria sua vida moral, nacional e religiosa. Entre essas leis estavam a do sacrifício (Lev. capítulos 1 a 7) as quais ensinavam à nação a maneira correta de aproximarse de Deus e adorá-lo. As nações tinham uma adoração pervertida; Deus restaurou em Israel a adoração pura.

Os sacrifícios mosaicos eram meios pelos quais os israelitas rendiam ao seu Criador a primeira obrigação do homem, a saber, a adoração. Tais sacrifícios eram oferecidos com o objetivo de alcançar comunhão com Deus e remover todos os obstáculos que impediam essa comunhão. Por exemplo, se o israelita pecasse e dessa maneira perturbasse a relação entre ele e Deus, traria uma oferta pelo pecado — o sacrifício de expiação. Ou, se tivesse ofendido ao seu próximo, traria uma oferenda pela culpa — o sacrifício de restituição. (Lev. 6:1-7.) Depois que, estava de bem com Deus e com os homens e desejava reconsagrar-se, oferecia uma oferta queimada (holocausto) — o sacrifício de adoração (Lev. capítulo 1) Estava então pronto para desfrutar de uma feliz comunhão com Deus, que o havia perdoado e aceito; portanto, ele apresentava uma oferenda de adoração — sacrifício de comunhão. (Lev. capítulo 3) O propósito desses sacrifícios cruentos cumpre-se em Cristo, o sacrifício perfeito.

Sua morte é descrita como morte pelo pecado, como ato de levar o pecado (2 Cor. 5:21) Deus fez da alma de Cristo uma oferta pela culpa do pecado (tal é a tradução literal); ela pagou a dívida que não podíamos pagar, e apagou o passado que não podíamos desfazer. Cristo é a nossa oferenda queimada (holocausto), porque sua morte é exposta como um ato de perfeito oferecimento próprio (Heb. 5:15; Efés. 5:). Ele é a nossa oferta de paz. porque ele mesmo descreveu sua morte como um meio para se participar (ter comunhão com) da vida divina. (vide Lev. 7.15, 20.)

3. A eficácia do sacrifício.

Até que ponto os sacrifícios do Antigo Testamento foram eficazes? Asseguravam realmente perdão e pureza? Que benefícios asseguravam para o ofertante? Essas perguntas são de verdadeira importância, porque, comparando e contrastando os sacrifícios levíticos com o sacrifício de Cristo, poderemos compreender melhor a eficácia e finalidade do último.

Este tema é tratado na carta aos Hebreus. O escritor dirige-se a um grupo de cristãos hebreus, os quais, desanimados pela perseguição, são tentados a voltar ao Judaísmo e aos sacrifícios do templo. As realidades nas quais eles criam são invisíveis, ao passo que o templo com seu ritual parece tangível e real. A fim de evitar que tomassem tal decisão, o escritor faz a comparação entre o Antigo e o Novo Concertos, sendo imperfeito e provisório o Antigo, mas perfeito e eterno o Novo. Voltar ao templo e ao seu sacerdócio e sacrifício seria desprezar a substância preferindo a sombra, o perfeito pela imperfeição. O argumento é o seguinte: o Antigo Concerto era bom, na medida de sua finalidade e para o seu determinado propósito ao qual foi constituído; mas o Novo Concerto é melhor.

(a) Os sacrifícios do Antigo Testamento eram bons. Se não fossem, não teriam sido divinamente ordenados. Eles eram bons no sentido de terem cumprido um determinado propósito incluído no plano divino, isto é, um meio de graça, para que aqueles do povo de Jeová que haviam pecado contra ele pudessem voltar ao estado de graça, serem reconciliados, e continuarem no gozo de comunhão com ele. Quando o israelita havia fielmente cumprido as condições, então podia descansar sobre a promessa; "o sacerdote por ele fará expiação do seu pecado, e lhe ser perdoado" (Lev. 4:26).

Quando um israelita esclarecido trazia oferta, estava ele cônscio de duas coisas: primeira, que o arrependimento em si não era o suficiente; era indispensável uma transação visível que indicasse o fato de ser removido o pecado. (Heb. 9:22.) Mas por outro lado, ele aprendia com os profetas que o ritual sem a correta disposição interna do coração também era mera formalidade sem valor. O ato de sacrifício devia ser a expressão externa dos sacrifícios internos de louvor, oração, justiça e obediência — sacrifícios do coração quebrantado e contrito. (Vide Sal. 26:6; 50:12-14; 4:5; 51:16; Prov. 21:3; Amós 5:21-24; Miq. 6:6-8; Isa. 1:11-17.) "O sacrifício (oferta de sangue) dos ímpios é abominação ao Senhor", declarou Salomão (Prov. 15:8).

Os escritores inspirados, em termos claros externaram o fato de que as "emoções ritualistas não acompanhadas de emoções de justiça eram devoções inaceitáveis". [b) O sacrifício único do Novo Testamento é melhor. Embora reconhecessem a divina ordenação de sacrifícios de animais, os israelitas esclarecidos certamente compreendiam que esses animais não podiam ser o meio perfeito de expiação. 1) Havia grande disparidade entre um irracional e irresponsável e o homem feito à imagem de Deus.

Era evidente que o animal não constituía sacrifício inteligente e voluntário. Não havia nenhuma comunhão entre o ofertante e a vítima. Era evidente que o sacrifício do animal não podia comparar-se em valor à alma humana, nem tampouco exercer qualquer poder sobre o homem interior. Nada havia no sangue da criatura irracional que efetuasse a redenção espiritual da alma, a qual somente seria possível pela oferta duma vida humana perfeita. O escritor inspirado externou o que certamente foi a conclusão à qual chegaram muitos crentes do Antigo Testamento, quando disse: "Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados" (Heb. 10:4).

Quando muito, os sacrifícios eram apenas meios temporários e imperfeitos de cobrir o pecado até que viesse uma redenção mais perfeita. A lei levou o povo à convicção dos pecados (Rom. 3:20), e os sacrifícios tornaram inoperantes esses pecados de forma que não podiam provocar a ira divina. 2) Os sacrifícios de animais são descritos como "ordenanças carnais", isto é, são ritos que removeram contaminações do corpo, e expiaram atos externos do pecado (Heb. 9:10) mas em si mesmos nenhuma virtude espiritual possuíam "... o sangue dos touros e bodes... santifica, quanto à purificação da carne" (Heb. 9:13); isto é, fizeram expiação pelas contaminações que excluíam um israelita da comunhão na congregação de Israel.

Por exemplo, se a pessoa se contaminasse fisicamente seria considerada imunda e cortada da congregação de Israel até que se purificasse e oferecesse sacrifício (Lev. 5:1-6); ou se ofendesse materialmente seu próximo, estaria sob a condenação até que trouxesse uma oferta pelo pecado (Lev.6:1-7). No primeiro caso o sacrifício purificava a contaminação carnal; no segundo, o sacrifício fazia expiação pelo ato externo mas não mudava o coração).

O próprio Davi reconheceu que estava preso por uma depravação da qual os sacrifícios de animais não o podiam libertar (Sal. 51:16; vide 1Sam. 3:14}; ele orou a Deus pedindo a renovação espiritual que sacrifícios não podiam proporcionar (Sal 51:6-10). 3) A repetição dos sacrifícios de animais denuncia a sua imperfeição; não podiam aperfeiçoar o adorador (Heb. 10:1, 2), isto é, não podiam dar-lhe uma posição ou relação perfeita perante Deus, sobre a qual pudesse edificar a estrutura do seu caráter.

Não podia experimentar de uma vez para sempre uma transformação espiritual que seria o inicio duma nova vida. 4) Os sacrifícios de animais eram oferecidos por sacerdotes imperfeitos; a imperfeição de seu ministério era indicada pelo fato de que não podiam entrar a qualquer hora no Santo dos Santos, e, portanto, não podiam conduzir o adorador diretamente à divina presença. "Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto..." (Heb. 9:8). O sacerdote não dispunha de nenhum sacrifício pelo qual pudesse conduzir o povo a uma experiência espiritual com Deus, e dessa forma tomar o adorador perfeito "quanto à consciência" (Heb. 9:9).

Ao ser interpelado o israelita espiritual com respeito às suas esperanças de redenção, ele diria, à luz do mesmo discernimento que o fez perceber a imperfeição dos sacrifícios de animais, que a solução definitiva era aguardada no futuro, e que a perfeita redenção estava em conexão, de alguma maneira, com a ordem perfeita que se inauguraria à vinda do Messias. Em verdade, tal revelação foi concedida a Jeremias. Esse profeta havia desanimado de crer que o povo seria capaz de guardar a lei; seu pecado fora escrito com pena de ferro (Jer. 17:1), seu coração era enganoso e mau em extremo (Jer. 17:9).

Não podiam mudar o coração como o etíope não podia mudar a cor de sua pele (Jer. 19:23); tão calejados estavam e tão depravados eram, que os próprios sacrifícios não lhes podiam valer (Jer. 6:20). Na realidade, haviam-se esquecido do propósito primordial desses sacrifícios. Do ponto de vista humano o povo não oferecia nenhuma esperança, mas Deus confortou a Jeremias com a promessa da vinda dum tempo quando, sob uma nova aliança, os corações do povo seriam transformados, quando haveria então uma perfeita remissão dos pecados (Jer. 31:31-34).

"Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados." Em Heb. 10:17, 18 encontramos a inspirada interpretação dessas últimas palavras em que se concretizaria uma redenção perfeita mediante um sacrifício perfeito que dava a entender que os sacrifícios de animais haviam de desaparecer. (Vide Heb. 10:6-10.) Por meio desse sacrifício o homem desfruta duma experiência "uma vez para sempre" que lhe dá uma aceitação perfeita perante Deus. O que não se conseguiu pelos sacrifícios da lei obteve-se pelo perfeito sacrifício de Cristo.

"E assim o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus..." (Heb. 10:11, 12). 5) Resta uma questão a ser considerada. é certo que havia pessoas verdadeiramente justificadas antes da obra expiatória de Cristo. Abraão foi justificado pela fé (Rom. 4:23) e entrou no reino de Deus (Mat. 8:11; Luc. 16:22); Moisés foi glorificado (Luc. 9:30, 31); e Enoque e Elias foram transladados. Sem dúvida houve muitas pessoas santas em Israel que alcançaram a estatura espiritual desses homens dignos.

Sabendo que os sacrifícios de animais eram insuficientes, e que o único sacrifício perfeito era o de Cristo, em que base então foram salvos esses santos do Antigo Testamento? Foram salvos por antecipação do futuro sacrifício realizado. A prova dessa verdade encontra-se em Heb. 9:15 (vide também Rom. 3:25), que ensina que a morte de Cristo era, em certo sentido, retroativa e retrospectiva; isto é, que tinha uma eficácia em relação ao passado. Hebreus 9:15 sugere o seguinte pensamento: a Antiga Aliança era impotente para prover uma redenção perfeita.

Cristo completou essa aliança e inaugurou a Nova Aliança com a sua morte, a qual efetuou a "redenção das transgressões que estavam debaixo do primeiro testamento". Isso significa que Deus, ao justificar os crentes do Antigo Testamento, assim o fez em antecipação da obra de Cristo, "a crédito", por assim dizer; Cristo pagou o preço total na cruz e apagou a dívida. Deus deu aos santos do Antigo Testamento uma posição, a qual a Antiga Aliança não podia comprar, e assim o fez em vista duma aliança vindoura que podia efetuar.

Se perguntassem aos crentes do Antigo Testamento se durante a sua vida gozaram dos mesmos privilégios que aqueles que vivem sob o Novo Testamento, a resposta seria negativa. não havia nenhum dom permanente do Espírito Santo (João 7:39) que acompanhasse seu arrependimento e fé; não gozavam da plena verdade sobre a imortalidade revelada por Cristo (2 Tim. 1:10), e, de modo geral, eram limitados pelas imperfeições da dispensação na qual viviam. O melhor que se pode dizer é que apenas saborearam algo das boas coisas vindouras.

A Expiação no Novo Testamento

1. O fato da expiação.
A expiação que fora preordenada desde a eternidade e prefigurada tipicamente no ritual do Antigo Testamento cumpriuse historicamente, na crucificação de Jesus, quando se consumou o divino propósito redentivo. "Está consumado!" Os escritores dos Evangelhos descreveram os sofrimentos e a morte de Cristo com profusão de pormenores que não se vêm nas narrativas de outros eventos das profecias do Antigo Testamento, os quais indicam a grande importância do evento.

Alguns escritores da escola "liberal" defendem a teoria de que a morte de Cristo fora acidente e tragédia.! Ele teria iniciado seu ministério com grande esperança de sucesso, segundo eles, mas depois viu-se envolvido em certas circunstâncias que ocasionaram a sua destruição imprevista, à qual não pôde escapar. Mas, que dizem os Evangelhos a respeito? Segundo o seu testemunho, Jesus sabia desde o princípio que o sofrimento e a morte faziam parte do seu destino divinamente ordenado. Em sua declaração, que o Filho do homem devia sofrer, a palavra "devia" indica a vocação divina e não a fatalidade imprevista e inevitável.

No ato do seu batismo ele ouviu as palavras: "Este é o meu filho amado, em quem me comprazo" (Mat. 3:17). Essas palavras são extraídas de duas profecias, a primeira declarando a filiação do Messias e sua Divindade (Sal. 2:7), e a segunda descrevendo o ministério do Messias como o Servo do Senhor (Isa. 42:1). O servo mencionado em Isa. 42:1 é o Servo sofredor de Isa. 53. A conclusão à qual chegamos é que mesmo na hora do seu batismo, Jesus estava ciente do fato de que sofrimento e morte faziam parte de sua vocação.

A rejeição das ofertas de Satanás no deserto implicava desfecho trágico de sua obra, pois ele escolheu o caminho duro da rejeição em vez do fácil e popular. O próprio fato de o Santo estar no meio do povo (Luc. 3:21) que se batizava, e o submeter-se ao mesmo batismo foi um ato de identificação com a humanidade pecaminosa, a fim de levar os pecados desse mesmo povo. O Servo do Senhor, segundo Isaias 53, seria "contado com os transgressores" (ver. 12).

O batismo de Jesus pode ser considerado como "o grande ato de amorosa comunhão com a nossa miséria", pois nessa hora ele identifica-se com os pecadores e, por conseguinte, em certo sentido sua obra de expiação jà começou. Muitas vezes durante o curso do seu ministério o Senhor, em linguagem oculta e figurada, referiu-se à sua morte (Mat.5:10-12; 23:37; Mar. 9:12,13; 3:6,20-30; 2:19), mas em Cesaréia de Filipo ele claramente disse aos discípulos que devia sofrer e morrer. Daquele tempo em diante ele procurou esclarecerlhes as mentes sobre este fato, que teria que sofrer, para que, sendo avisados, não naufragassem em sua fé ante o choque da crucificação. (Mar. 8:31; 9:31; 10:32.)

Ele também lhes explicou o significado de sua morte. não a deveriam considerar como tragédia imprevista e infeliz à qual teria que se resignar, e, sim, como sendo morte cujo propósito era fazer expiação. "O Filho do homem veio a dar a sua vida em resgate de muitos." Na última ceia Jesus deu instruções acerca da futura comemoração de sua morte, como sendo o supremo ato de seu ministério. Ele ordenou um rito que comemoraria sua redenção da humanidade, assim como a Páscoa comemorava a redenção de Israel do Egito. Seus discípulos, que ainda estavam sob a influência de idéias judaicas acerca do Messias e do reino, não podiam compreender a necessidade de sua morte e só com dificuldade podiam aceitar o fato. Mas apos a ressurreição e a ascensão eles o entenderam e sempre depois disso afirmaram que a morte de Cristo fora divinamente ordenada como o meio da expiação. "Cristo morreu pelos nossos pecados", é seu testemunho de sempre.

2. A necessidade da expiação.

A necessidade da expiação é conseqüência de dois fatos: a santidade de Deus e a pecabilidade do homem. A reação da santidade de Deus contra a pecabilidade do homem é conhecida como sua ira, a qual pode ser evitada mediante a expiação. Portanto, os pontos-chave do nosso estudo serão os seguintes: Santidade, pecabilidade, ira e expiação.

(a) A santidade de Deus. Deus é santo por natureza, o que significa que ele é justo em caráter e conduta. Esses atributos do seu caráter manifestam-se em seus tratos com a sua criação. "Ele ama a justiça e o juízo" (Sal. 33:5). "Justiça e juízo são a base do teu trono" (Salm 89:14). Deus constituiu o homem e o mundo segundo leis especificas, leis que formam o próprio fundamento da personalidade humana, escritos no coração e na natureza do homem. (Rom. 2:14, 15.)

Essas leis unem o homem ao seu Criador pelos laços de relação pessoal e constituem a base da responsabilidade humana. "Porque nele vivemos, e nos movemos e existimos" (Atos17:28), assim foi dito da humanidade em geral. O pecado perturba a relação expressa nesse verso, e ao fim o pecador impenitente será lançado eternamente da presença de Deus. Esta é "a segunda morte". Em muitas ocasiões essa relação foi reafirmada, ampliada e interpretada sob outro sistema chamado aliança.

Por exemplo, no Sinai Deus reafirmou as condições sob as quais ele podia ter comunhão com o homem (a lei moral) e, então estabeleceu uma série de regulamentos pelos quais Israel poderia observar essas condições na esfera da vida nacional e religiosa. Guardar a aliança significa estar em relação com Deus, ou estar na graça; pois aquele que é justo pode ter comunhão somente com aqueles que andam na justiça. "Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3:3). E estar em comunhão com Deus significa vida. Do princípio ao fim, as Escrituras declaram esta verdade, que a obediência e a vida andam juntas. (Gên. 2:17; Apoc. 22:14.)

(b) A pecabilidade do homem. Essa relação foi perturbada pelo pecado que é um distúrbio da relação pessoal entre Deus e o homem. E desrespeitar a constituição, por assim dizer, ação que afeta a Deus e aos homens, tal qual a infidelidade que viola o pacto matrimonial sob o qual vivem o homem e sua mulher. (Jer. 3:20.) "Vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus" (Isa. 59:2). A função da expiação é fazer reparação pela lei violada e reatar a comunhão interrompida entre Deus e o homem.

(c) Ira. O pecado é essencialmente um ataque contra a honra e a santidade de Deus. É rebelião contra Deus, pois pelo pecado deliberado, o homem prefere a sua própria vontade em lugar da vontade de Deus, e por algum tempo torna-se "autônomo". Mas se Deus permitisse que sua honra fosse atacada então ele deixaria de ser Deus. Sua honra pede a destruição daquele que lhe resiste; sua justiça exige a satisfação da lei violada; e sua santidade reage contra o pecado sendo essa reação reconhecida como manifestação da ira. Mas essa reação divina não é automática; nem sempre ela entra em ação instantaneamente, como acontece com a mão em contato com o fogo.

A ira de Deus é governada por considerações pessoais; Deus é tardio em destruir a obra de suas mãos. Ele insta com o homem; ele espera ser gracioso. Ele adia o juízo na esperança de que sua bondade conduza o homem ao arrependimento. (Rom. 2:4; 2 Ped. 3:9.) Mas os homens interpretam mal as demoras divinas e zombam do dia de juízo. "Visto como se não executa imediatamente o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal" (Ecl. 8:11).

Mas, embora demore, a retribuição final virá, pois num mundo governado por leis ter de haver um ajuste de contas. "não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gál. 6:7). Essa verdade foi demonstrada no Calvário, onde Deus declarou "sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus" (Rom. 3:25). Assim alguém traduz essa passagem: "Isto foi para demonstrar a justiça de Deus em vista do fato de que os pecados previamente cometidos durante o tempo da tolerância de Deus foram ignorados".

Outro assim parafraseia a passagem: "Ele suspendeu o juízo sobre os pecados daquele período anterior, o período de sua paciência, tendo em vista a revelação de sua justiça sob esta dispensação, quando ele, justo Juiz, absolverá o pecador que afirma sua fé em Jesus." Em séculos passados parece que Deus não levou em conta os pecados das nações; os homens continuaram no pecado, aparentemente sem ceifar as suas conseqüências. Dai a pergunta: "Então Deus não toma conhecimento do pecado?" Mas a crucificação revelou o caráter horrendo do pecado, e demonstra vivamente o terrível castigo sobre ele.

A cruz de Cristo declara que Deus nunca foi, não é, e nunca poderia ser indiferente ao pecado dos homens. Assim comenta o assunto um erudito: Deus deu provas de sua ira contra o pecado quando ocasionalmente castigou Israel e as nações gentílicas. Mas ele não infligiu a plena penalidade, caso contrário a raça humana teria perecido. Em grande parte ele "passou por alto" os pecados dos homens. Seria injusto o rei que deixasse de punir um crime ou mesmo que adiasse a punição. E na opinião de alguns. Deus perdeu prestigio por causa de sua tolerância, a qual interpretam como um meio de escapar à punição divina. Deus destinou Cristo para morrer a fim de demonstrar a sua justiça em vista da tolerância dos pecados passados, tolerância que parecia ofuscar a justiça.

(d) Expiação. O homem tem quebrado as leis de Deus e violado os princípios da justiça. O conhecimento desses atos está registrado em sua memória e a sua consciência o acusa. Que se pode fazer para remediar o passado e ter segurança no futuro? Existe alguma expiação pela lei violada? Para essa pergunta existem três respostas: 1) Alguns afirmam que a expiação não é possível e que a vida é governada por uma lei inexorável, a qual punirá com precisão matemática todas as violações. O que o homem semear, fatalmente, isso mesmo ele ceifará.

O pecado permanece. Assim o pecador nunca escapará às culpas do passado. Seu futuro está hipotecado e não existe redenção para ele. Essa teoria faz do homem um escravo de suas circunstâncias; nada pode fazer quanto ao seu destino. Se os proponentes dessa teoria reconhecem a Deus, para eles Deus é escravizado às suas próprias leis, incapaz de prover um meio de escape para os pecadores. 2) No outro extremo há aqueles que ensinam que a expiação é desnecessária.

Deus é tão bom que não punirá o pecador, e tão gracioso que não exigirá a satisfação da lei violada. Por conseguinte, a expiação toma-se desnecessária e é de supor que Deus perdoará a todos. Certa vez um médico disse a uma cliente que lhe havia falado do Evangelho: Eu não preciso de expiação. Quando erro, peço simplesmente a Deus que me desculpe, e é quanto basta." Depois de certo tempo a cliente voltou ao médico e lhe disse: "Doutor, agora estou bem. Sinto muito haver ficado doente, e prometo-lhe que me esforçarei para nunca mais adoecer." Ao mesmo tempo ela insinuou que nenhuma necessidade havia de considerar ou pagar a conta! Cremos que o médico compreendeu a lição, isto é, que mero arrependimento não salda conta, nem repara os estragos causados pelo pecado. 3)

O Novo Testamento ensina que a expiação é tanto necessária como também possível; possível porque Deus é benévolo, bem como justo; necessária porque Deus é justo, bem como benévolo. Os dois erros acima tratados são exageros de duas verdades sobre o caráter de Deus. O primeiro exagera a sua justiça, excluindo a sua graça. O segundo exagera sua graça, excluindo a sua justiça. A expiação faz justiça a ambos os aspectos de seu caráter, pois na morte de Cristo, Deus está agindo de modo justo como também benévolo.

Ao tratar do pecado, ele precisa mostrar sua graça, pois ele não deseja o morte do pecador; mas, ao perdoar o pecado, ele precisa revelar a sua justiça, pois a própria estabilidade do universo depende da soberania de Deus. Na expiação Deus faz justiça a seu caráter como um Deus benévolo. Sua justiça clamou pelo castigo do pecador, mas sua graça proveu um plano para o perdão. Ao mesmo tempo ele faz justiça a seu caráter como um Deus justo e reto. Deus não faria justiça a si mesmo se manifestasse compaixão para com os pecadores de maneira que fizesse do pecado uma coisa leve e que ignorasse sua trágica realidade. Poderíamos pensar que Deus seria então indiferente ou indulgente quanto ao pecado. O castigo do pecado foi pago no Calvário, e a lei divina foi honrada; dessa maneira Deus pôde ser benévolo sem ser injusto, e justo sem ser inclemente.

3. A natureza da expiação.

A morte de Cristo é: "Cristo morreu", expressa o fato histórico da crucificação; "por nossos pecados", interpreta o fato. Em que sentido morreu Jesus por nossos pecados? Como é explicado o fato no Novo Testamento? A resposta encontra-se nas seguintes palavras-chave aplicadas à morte de Cristo: Expiação, Propiciação, Substituição, Redenção e Reconciliação.

(a) Expiação. A palavra expiação no hebraico significa literalmente 'cobrir', e é traduzida pelas seguintes palavras: fazer expiação, purificar, quitar, reconciliar, fazer reconciliação, pacificar, ser misericordioso. A expiação, no original, inclui a idéia de cobrir, tanto os pecados (Sal. 78:38;79:9; Lev. 5:18) como também o pecador. (Lev. 4:20.) Expiar o pecado é ocultar o pecado da vista de Deus de modo que o pecador perca seu poder de provocar a ira divina. Citamos aqui o Pr. Alfred Cave: A idéia expressa pelo original hebraico da palavra traduzida "expiar", era "cobrir" e "cobertura", não no sentido de torná-lo invisível a Jeová , mas no sentido de ocupar sua vista com outra coisa, de neutralizar o pecado, por assim dizer, de desarmá-lo, de torná-lo inerte para provocar a justa ira de Deus.

Expiar o pecado... era arrojar, por assim dizer, um véu sobre o pecado tão provocante, de modo que o véu., e não o pecado, fosse visível; era colocar lado a lado com o pecado algo tão atraente que cativasse completamente a atenção. A figura que o Novo Testamento usa ao falar das vestes novas (de justiça), usa-a o Antigo Testamento ao falar da "expiação". Quando se fazia expiação sob a lei, era como se o olho divino, que se havia acendido pela presença do pecado e a impureza, fosse aquietado pela vestidura posta ao seu derredor; ou, usando uma figura muito mais moderna, porém igualmente apropriada, era como se o pecador, exposto a uma descarga elétrica da ira divina, houvesse sido repentinamente envolto e isolado.

A exposição significa cobrir de tal maneira o pecador, que seu pecado era invisível ou inexistente no sentido de que já não podia estar entre ele e seu Criador. Quando o sangue era aplicado ao altar pelo sacerdote, o israelita sentia a segurança de que a promessa feita a seus antecessores se faria real para ele. "Vendo eu sangue, passarei por cima de vós" (Êxo. 12:13). Quais eram o efeitos da expiação ou da cobertura? O pecado era apagado (Jer. 18:23; Isa. 43:25; 44:22); removido (Isa.6:7); coberto (Sal. 32:1); lançado nas profundidades do mar (Miq. 7:19); perdoado (Sal. 78:38).

Todos esses termos ensinam que o pecado é coberto de modo que seus efeitos sejam removidos, afastados da vista, invalidados, desfeitos. Jeová já não vê nem sofre influência alguma dele. A morte de Cristo foi uma morte expiatória, porque seu propósito era apagar o pecado. (Heb. 9:26, 28; 2:17; 10:12-14; 9:14.) Foi uma morte sacrificial ou uma morte que tinha relação com o pecado. Qual era essa relação? "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Ped. 2:24). "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Cor. 5:21) Expiar o pecado significa levá-lo embora, de modo que ele é afastado do transgressor, o qual é considerado, então, como justificado de toda a injustiça, purificado de contaminação e santificado para pertencer ao povo de Deus. Uma palavra hebraica usada para descrever a purificação significa, literalmente, "quitar o pecado". Pela morte expiatória de Cristo os pecadores são purificados do pecado e logo feitos participantes da natureza de Cristo. Eles morrem para o pecado a fim de viverem para Cristo.

(b) Propiciação. Crê-se que a palavra propiciação tem sua origem em uma palavra latina "propõe", que significa "perto de". Assim se nota que a palavra significa juntar, tornar favorável. O sacrifício de propiciação traz o homem para perto de Deus, reconcilia-o com Deus fazendo expiação por suas transgressões, ganhando a graça e favor. (Em sua misericórdia, Deus aceita o dom propiciatório e restaura o pecador a seu amor. Esse também é o sentido da palavra grega como é usada no Novo Testamento.

Propiciar é aplacar a ira de um Deus santo pela oferenda dum sacrifício expiatório. Cristo é descrito como sendo essa propiciação (Rom. 3:25: 1 João 2:4; 4). O pecado mantém o homem distanciado de Deus; mas Cristo tratou de tal maneira o assunto do pecado, a favor do homem, que o seu poder separador foi anulado. Portanto, agora o homem pode "chegar-se" a Deus "em seu nome". O acesso a Deus, o mais sublime dos privilégios, foi comprado por grande preço: o sangue de Cristo. Assim escreve o Dr. James Denney: E assim como no Antigo Testamento todo objeto usado na adoração tinha que ser aspergido com sangue expiatório, assim também todas as partes da adoração cristã; todas as nossas aproximações a Deus devem descansar conscientemente sobre a expiação. Devese sentir que é um privilégio de inestimável valor; deve ser permeado com o sentimento da paixão de Cristo e com o amor com que ele nos amou quando sofreu por nossos pecados de uma vez para sempre, o justo pelos injustos para chegar-nos a Deus. A palavra "propiciação" em Romanos 3:25 é tradução da palavra grega "hilasterion", que se encontra também em Heb. 9:5 onde é traduzida como "propiciatório".

No hebraico, "propiciatório" significa literalmente "coberta", e, tanto no hebraico como no grego, a palavra expressa o pensamento de um sacrifício (*). Refere-se à arca da aliança (Êxo. 25:10-22) que estava composta de duas partes: primeira, a arca, representando o trono do justo governante de Israel, contendo as tábuas da lei como a expressão de sua justa vontade; segunda, a coberta, ou tampa, conhecida como "propiciatório", coroada com figuras angélicas chamadas querubins.

Duas lições salientes eram comunicadas por essa mobília: primeira, as tábuas da lei ensinavam que Deus era um Deus justo que não passaria por alto o pecado e que devia executar seus decretos e castigar os ímpios. Como podia uma nação pecaminosa viver ante sua face? O propiciatório, que cobria a lei, era o lugar onde se aspergia o sangue uma vez por ano para fazer expiação pelos pecados do povo. Era o lugar onde o pecado era coberto, e ensinava a lição de que Deus, que é justo, pode perfeitamente perdoar o pecado por causa dum sacrifício expiatório.

Por meio do sangue expiatório, aquilo que é um trono de juízo se converte em trono de graça. A arca e o propiciatório ilustram o problema resolvido pela expia ao. O problema e sua solução são declarados em Rom. 3: 24-26, onde lemos: "sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação (um sacrifício expiatório) pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos (demonstrar que a aparente demora em executar o juízo não significa que Deus passou por alto o pecado) sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça, neste tempo presente (sua maneira de fazer justos os pecadores), para que ele seja justo (infligir o devido castigo pelo pecado), e justificador (remover o castigo pelo pecado) daquele que tem fé em Jesus".

Como pode Deus realmente infligir o castigo do pecado e ao mesmo tempo cancelar esse castigo? Deus mesmo tomou o castigo na pessoa de seu Filho, e desta maneira abriu o caminho para o perdão do culpado. Sua lei foi honrada e o pecador foi salvo. O pecado foi expiado e Deus foi propiciado. Os homens podem entender como Deus pode ser justo e castigar, ser misericordioso e perdoar; mas a maneira como pode Deus ser justo no ato de justificar ao culpado, é para eles um enigma. O Calvário resolve o problema. É preciso esclarecer o fato de que a propiciação foi uma verdadeira transação, porque alguns ensinam que a expiação foi simplesmente uma demonstração do amor de Deus e de Cristo, com a intenção de comover o pecador ao arrependimento.

Esse certamente é um dos efeitos da expiação (1 João 3:16), mas não representa o todo da expiação. Por exemplo, poderíamos pular para dentro dum rio e afogarmo-nos à vista de uma pessoa muito pobre a fim de convencê-la do nosso amor por ela; mas esse ato não pagaria o aluguel da casa nem a conta do fornecedor que ele devesse! A obra expiatória de Cristo foi uma verdadeira transação que removeu um verdadeiro obstáculo entre nós e Deus, e pagou a dívida que não podíamos pagar.

(c) Substituição. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram substitutos por natureza; eram considerados como algo a que se procedia, no altar, para o israelita, que não podia fazê-lo por si mesmo. O altar representava o pecador; a vitima era o substituto do israelita para ser aceita em seu favor. Da mesma forma Cristo, na cruz, fez por nós o que não podíamos fazer por nos mesmos, e qualquer que seja a nossa necessidade, somos aceitos "por sua causa". Se oferecemos a Deus nosso arrependimento, gratidão ou consagração, fazemo-lo "em seu nome", pois ele é o Sacrifício por meio do qual chegamos a Deus o Pai.

O pensamento de substituição é saliente nos sacrifícios do Antigo Testamento, onde o sangue da vitima é considerado como uma coberta ou como fazendo expiação pela alma do ofertante. No capítulo em que os sacrifícios do Antigo Testamento alcançam seu maior significado (Isa. 53) lemos: "Verdadeiramente" ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si... mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados, (vers. 4, 5).

Todas essas expressões apresentam o Servo de Jeová como levando o castigo que devia cair sobre outros, a fim de "justificar a muitos"; e "levar as iniqüidades deles". Cristo, sendo o Filho de Deus, pôde oferecer um sacrifício de valor eterno e infinito. Havendo assumido a natureza humana, Pôde identificarse com o gênero humano e assim sofrer o castigo que era nosso, a fim de que pudéssemos escapar. Isso explica a exclamação: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Ele que era sem pecado por natureza, que nunca havia cometido um pecado sequer em sua vida, se fez pecador (ou tomou o lugar do pecador). Nas palavras de Paulo: "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós" (2 Cor. 5:21). Nas palavras de Pedro: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Ped. 2:24).

(d) Redenção. A palavra redimir, tanto no Antigo como no Novo Testamento, significa tornar a comprar por um preço; livrar da servidão por preço, comprar no mercado e retirar do mercado. O senhor Jesus é um Redentor e sua obra expiatória é descrita como uma redenção. (Mat. 20:28; Apoc. 5:9; 14:3, 4; Gál. 3:13; 4:5; Tito 2:14; 1 Ped. 1:18.) A mais interessante ilustração de redenção se encontra no Antigo Testamento, na lei sobre a redenção dum parente. (Lev. 25:47-49.)

Segundo essa lei, um homem que houvesse vendido sua propriedade e se houvesse vendido a si mesmo como escravo, por causa de alguma dívida, podia recuperar, tanto sua terra como sua liberdade, em qualquer tempo, sob a condição de que fosse redimido por um homem que possuísse as seguintes qualidades: Primeira, deveria ser parente do homem; segunda deveria estar disposto a redimi-lo ou comprá- lo novamente; terceira, deveria ter com que pagar o preço.

O Senhor Jesus Cristo reuniu em si essas três qualidades: Fezse nosso parente, assumindo nossa natureza; estava disposto a dar tudo para redimir-nos (2 Cor. 8:9); e, sendo divino, pôde pagar o preço... seu próprio sangue precioso. O fato da redenção destaca o alto preço da salvação e, por conseguinte, deve ser levado em grande consideração. Quando certos crentes em Corinto se descuidaram de sua maneira de viver, Paulo assim os admoestou: "não sabeis... que não sois de vós mesmos? porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus" (1 Cor. 6:19. 20).

Certa vez Jesus disse: "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" (Mar. 8:36, 37). Com essa expressão ele quis dizer que a alma, a verdadeira vida do homem, podia perder-se ou arruinar-se; e perdendo-se não podia haver compensação por ela, porque não havia meios de tornar a comprá-la. Os homens ricos poderão jactar-se de suas riquezas e nelas confiar, porém o poder delas é limitado.

O Salmista disse: "Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes) por isso tão pouco viver para sempre ou deixar de ver a corrupção" (Sal 49: 7-9). Mas uma vez que as almas de multidões já foram "confiscadas", por assim dizer, por viverem no pecado, e não podem ser redimidas por meios humanos, que se pode fazer em favor delas? O Filho do homem veio ao mundo "para dar a sua vida em resgate (ou para redenção) de muitos (Mat. 20:28).

O supremo objetivo de sua vinda ao mundo foi dar sua vida como preço de resgate para que aqueles, cujas almas foram "confiscadas", pudessem recuperá-las. As vidas (espirituais) de muitos, "confiscadas", são libertadas pela rendição da vida por parte de Cristo. Pedro disse a seus leitores que eles foram resgatados de sua vã maneira de viver, que por tradição (pela rotina ou costumes), receberam dos seus pais (1 Pedro 1:18).

A palavra "vã" significa "vazia", ou aquilo que não satisfaz. A vida, antes de entrar em contato com a morte de Cristo, é inútil e vã é andar às apalpadelas, procurando uma coisa que nunca poderá ser encontrada. Com todos os esforços não logra descobrir a realidade; não tem fruto permanente. "Que adianta tudo isso?" exclamam muitas pessoas. Cristo nos redimiu dessa servidão. Quando o poder da morte expiatória de Cristo tem contato com a vida de alguém, essa vida desfruta de grande satisfação. não está mais escravizada às tradições de ancestrais ou limitada à rotina ou aos costumes estabelecidos. Antes, as ações do cristão surgem duma nova vida que veio a existir pelo poder da morte de Cristo. A morte de Cristo, sendo uma morte pelo pecado, liberta e "toma a criar" a alma.

(e) Reconciliação. "Tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nos a palavra da reconciliação" (2 Cor. 5: 18, 19.) Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho (Rom. 5:10). Homens que em outro tempo eram estranhos entre si e inimigos no entendimento pelas suas obras más, agora no corpo da sua carne, pela morte, foram reconciliados (Col. 1:21).

Muitas vezes a expiação é mal entendida e, por conseguinte, mal interpretada. Alguns imaginam que a expiação significa que Deus estava irado com o pecador, e que se afastou, mal-humorado, até que se aplacasse a ira, quando seu Filho se ofereceu a pagar a pena. Em outras palavras, pensam eles, Deus teve que ser reconciliado com o pecador. Essa idéia, entretanto é uma caricatura da verdadeira doutrina. Através das Escrituras vemos que é Deus, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em prover expiação pelo homem.

Foi Deus quem vestiu nossos primeiros pais; é o Senhor quem ordena os sacrifícios expiatórios; foi Deus quem enviou e deu seu Filho em sacrifício pela humanidade. O próprio Deus é o Autor da redenção do homem. Ainda que sua majestade tenha sido ofendida pelo pecado do homem, sua santidade, naturalmente, deve reagir contra o pecado, contudo, ele não deseja que o pecador pereça (Ezeq. 33:11), e, sim, que se arrependa e seja salvo. Paulo não disse que Deus foi reconciliado com o homem, mas sim que Deus fez algo a fim de reconciliar consigo o homem. Esse ato de reconciliação é uma obra consumada; é uma obra realizada em beneficio dos homens, de maneira que, à vista de Deus, o mundo inteiro está reconciliado.

Resta somente que o evangelista a proclame e que o indivíduo a receba. A morte de Cristo tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com Deus; cada indivíduo deve torná-la real. Essa, em essência, é a mensagem do evangelho; a morte de Cristo foi uma obra consumada de reconciliação, efetuada independente de nós, a um custo inestimável, para a qual são chamados os homens mediante um ministério de reconciliação.

4. A eficácia da expiação.

Que efeito tem para o homem a obra expiatória de Cristo? Que produz ela em sua experiência?

(a) Perdão da transgressão. Por meio de sua obra expiatória, Jesus Cristo pagou a dívida que nos não podíamos saldar e assegurou a remissão dos pecados passados. Assim, o passado pecaminoso para o cristão não é mais aquele peso horrendo que conduzia, pois seus pecados foram apagados, carregados e cancelados. (João 1:29; Efés. 1:7; Heb. 9:22-28; Apo. 1:5.) Começou a vida de novo, confiando em que os pecados do passado nunca o encontrarão no juízo. (João 1^:24.)

(b) Livramento do pecado. Por meio da expiação o crente é liberto, não somente da culpa dos pecados, mas também pode ser liberto do poder do pecado. O assunto é tratado em Romanos, caps. 6 a 8. Paulo antecipa uma objeção que alguns dos seus oponentes judeus devem ter suscitado muitas vezes a saber, que se a pessoa fosse salva meramente por crer em Jesus, essa pessoa teria opinião leviana sobre o pecado, dizendo: "Se permanecermos no pecado, sua graça abundará" (Rom. 6:1). Paulo repudia tal pensamento e assinala que aquele que verdadeiramente crê em Cristo, rompeu com o pecado.

O rompimento tão decisivo que é descrito como "morte". A viva fé no Salvador crucificado resulta na crucificação da velha natureza pecaminosa. O homem que crê com todos os poderes de sua alma (é essa a verdadeira crença) que Cristo morreu por seus pecados, terá uma tal convicção sobre a condição terrível do pecado, e o repudiará com todo o seu ser. A cruz significa a sentença de morte sobre o pecado. Mas o tentador está ativo e a natureza humana é fraca; por isso é necessária uma vigilância constante e uma crucificação diária dos impulsos pecaminosos. (Rom. 6:11.)

E a vitória é assegurada "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rom. 6:14.) Isto é, a lei significa que algo deve ser feito pelo pecador; não podendo pagar a dívida ou cumprir a exigência da lei, ele permanece cativo pelo pecado. Por outro lado, graça significa que algo foi feito a favor do pecador... a obra consumada do Calvário. Conforme o pecador crê no que foi feito a seu favor, assim ele recebe o que foi feito. Sua fé tem um poderoso aliado na Pessoa do Espírito Santo, que habita nele. O Espírito Santo ajuda-o a repudiar as tendências pecaminosas; ajuda-o na oração e dá-lhe a certeza de sua liberdade e vitória como um filho de Deus. (Rom. 8). Na verdade, Cristo morreu para remover o obstáculo do pecado, para que o Espírito de Deus possa entrar na vida humana (Gál. 3:13, 14).

Sendo salvo pela graça de Deus, revelada na cruz, o crente recebe uma experiência de purificação e vivificação espiritual (Tito 3: 5-7). Havendo morrido para a antiga vida de pecado, a pessoa nasce de novo, para uma nova vida... nasce da água (experimentando a purificação) e nasce do Espírito (recebendo a vida divina). (João 3:5.)

(c) Libertação da morte. A morte tem um significado tanto físico como espiritual. No sentido físico denota a cessação da vida física, conseqüente de enfermidade, decadência natural ou de causa violenta. é porém, mais usada no sentido espiritual, isto é, como o castigo imposto por Deus sobre o pecado humano. A palavra expressa a condição espiritual de separação de Deus e do desagrado divino por causa do pecado.

O impenitente que morrer fora do favor de Deus permanecerá eternamente separado dele no outro mundo, sendo conhecida essa separação como a "segunda morte". Este aviso: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás", não se teria cumprido se a morte fosse apenas o ato físico de morrer, pois Adão e Eva continuaram a viver depois daquele dia. Mas o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra "morte" implicava todas as conseqüências penais do pecado — separação de Deus, iniqüidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas conseqüências.

Quando as Escrituras dizem que Cristo morreu por nossos pecados, querem dizer que Cristo se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais fatos.

Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento. Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expiação à simplicidade de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e Cristo deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer. Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento interno da presença de Deus; são palavras de Um que efetuou um ato que implica separação divina.

Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.) Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte física (Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e esta se toma uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido Jesus afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).

(d) O dom da vida eterna. Cristo morreu para que nos não perecêssemos (a palavra é usada no sentido bíblico de ruína espiritual), mas "tenhamos a vida eterna" (João 3:14-16. Vide Rom. 6;23.) A vida eterna significa mais do que mera existência; significa vida no favor de Deus e comunhão com ele. Morto em transgressões e pecados, o homem está fora do favor de Deus; pelo sacrifício de Cristo, o pecado é expiado e ele restaurado à plena comunhão com Deus. Estar no favor de Deus e em comunhão com ele é ter vida eterna, pois é a vida com ele que é o Eterno. Essa vida é possuída agora porque os crentes estão em comunhão com Deus; a vida eterna é descrita como futura (Tito 1:2; Rom. 6:22), porque a vida futura trará perfeita comunhão com Deus. "E verão o seu rosto" (Apo. 22:4).

(e) A vida vitoriosa. A cruz é o dínamo que produz no coração humano essa resposta que constitui a vida cristã. A expressão "eu viverei para ele que morreu por mim", diz bem o dinamismo da cruz. A vida cristã é a reação da alma ante o amor de Cristo. A cruz de Cristo inspira o verdadeiro arrependimento, o qual é arrependimento para com Deus. O pecado muitas vezes é seguido de remorso, vergonha e ira; mas somente quando houver tristeza por ter ofendido a Deus, há verdadeiro arrependimento.

Esse conhecimento interno não se produz por vontade própria, pois a própria natureza do pecado tende a obscurecer a mente e a endurecer o coração. O pecador precisa de um motivo poderoso para arrepender-se — algo que o faça ver e sentir que seu pecado ofendeu e injuriou profundamente a Deus. Mas o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra "morte" implicava todas as conseqüências penais do pecado — separação de Deus, iniqüidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas conseqüências.

Quando as Escrituras dizem que Cristo morreu por nossos pecados, querem dizer que Cristo se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino.

A verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento. Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expia ao à simplicidade de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e Cristo deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer.

Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento interno da presença de Deus; são palavras de Um que efetuou um ato que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.) Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte física (Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e esta se torna uma porta para outra vida mais ampla.

Neste sentido Jesus afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).A cruz de Cristo fornece esse motivo, pois ela demonstra a natureza horrenda do pecado, pelo fato de ter causado a morte do Filho de Deus. Ela declara o terrível castigo sobre o pecado; mas revela também o amor e a graça de Deus. Está muito certo o que alguém disse: "Todos os verdadeiros penitentes são filhos da cruz. Seu arrependimento não é deles mesmos; é a reação para com Deus produzida em suas almas pela demonstração do que o pecado é para ele, e o que faz o seu amor para alcançar e ganhar os pecadores."

Está escrito acerca de certos santos que vieram da grande tribulação, que "Lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro" (Apoc. 7:14). A referência é ao poder santificador da morte de Cristo. Eles haviam resistido ao pecado, e agora eram puros. De onde receberam a força para vencer o pecado? O poder do amor de Cristo revelado no Calvário os constrangeu.

O poder da cruz, descendo em seus corações, os capacitou para vencerem o pecado. (Vide Gál. 2:20.) "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte" (Apoc. 12:11). O amor de Deus os constrangeu e ajudou-os a vencer. A pressão sobre eles foi grande, mas, com o sangue do Cordeiro como o motivo que os impulsionava, eram invencíveis. "Tendo em vista a cruz sobre a qual Jesus morreu, não puderam "trair sua causa pela covardia, e não amaram mais as suas vidas do que ele amou a sua. Eles pertenciam a Cristo, como ele pertencia a eles". A vida vitoriosa inclui a vitória sobre Satanás. O Novo Testamento declara que Cristo venceu os demônios. (Luc. 10:17- 20; João 12:31, 32; 14:30; Col. 2:15; Heb. 2:14, 15; Apoc. 12: 11.) Os crentes têm a vitória sobre o diabo enquanto tiverem o Vencedor sobre o diabo!


CONTINUA...

SHALOM ADONAY

JOSÉ ALFINYAHU, Professor, Th.M em bíblia e Th.D em Teologia Sistematica.

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