Harmatiologia
Pecado do hebraico hattah; do grego harmartia e do latim peccatum. De
hamartia vem o termo hamartiologia ou doutrina do pecado.
O sentido original do termo Pecado significa; errar o alvo, fracassar. O pecado é um mal moral; é
violência, corrupção. Errar ou desviar-se do caminho de retidão e honra, fazer
ou andar no erro. Pecado significa “errar o alvo”, como um arqueiro que atira,
mas erra, do mesmo modo, o pecador erra o alvo final da vida. É também “errar o
caminho” como um viajante que sai do caminho certo. Pecado é uma falta de
integridade e retidão, uma saída da vereda designada. É uma revolta ou uma
recusa de sujeição à autoridade legítima, uma transgressão da lei divina.
Filósofos, psicólogos, teólogos, cientistas e muitos outros se tem
ocupado com o mistério da origem do pecado. Os resultados das suas pesquisas
diferem muito entre si, mas a Bíblia nos da uma definição correta.
O fato do pecado
Não há necessidade de discutir a questão da realidade do pecado; a
história e o próprio conhecimento intimo do homem oferecem abundante testemunho
do fato. Muitas teorias, porém, apareceram para negar, desculpar, ou diminuir a
natureza do pecado.
1. O ateísmo, ao negar a Deus, nega também o pecado, porque,
estritamente falando, todo pecado é contra Deus; e se não há Deus, não há
pecado. O homem pode ser culpado de pecar em relação a outros; pode pecar
contra si mesmo, porém estas coisas constituem pecado unicamente em relação a
Deus. Enfim, todo mal praticado é dirigido contra Deus, porque o mal é uma
violação do direito, e o direito é a lei de Deus. "Pequei contra o céu e
perante ti", exclamou o pródigo. Portanto, o homem necessita do perdão baseado
em uma provisão divina de expiação.
2. O determinismo é a teoria que afirma ser o livre arbítrio uma
ilusão e não uma realidade. Nós imaginamos que somos livres para fazer nossa
escolha, porém realmente nossas opções são ditadas por impulsos internos e
circunstâncias que escaparam ao nosso domínio. A fumaça que sai pela chaminé
parece estar livre, porém se esvai por leis inexoráveis.
Sendo assim, continua essa teoria, uma pessoa não pode deixar de atuar
da maneira como o faz, e estritamente falando, não deve ser louvada por ser boa
nem culpada por ser má. O homem é simplesmente um escravo das circunstâncias.
Mas as Escrituras afirmam terminantemente que o homem é livre para escolher
entre o bem e o mal — uma liberdade implícita em todos os mandamentos e exortações.
Longe de ser vítima da fatalidade e casualidade, declara-se que o homem é o
árbitro do seu próprio destino.
Durante uma discussão sobre a questão do livre arbítrio, o Dr.
Johnson, notável autor e erudito inglês, declarou: "Cavalheiro, sabemos que
nossa vontade é livre, e isto é tudo que há no assunto!" Cada grama de bom
senso excede em peso a uma tonelada de filosofia! Uma consequência prática do
determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade por cuja causa o
pecador merece dó ao invés de ser castigado.
Porém, a voz da consciência que diz "eu devo" refuta essa
teoria. Recentemente, um homicida de dezessete anos recusou-se a alegar
loucura. Seu crime era indesculpável, ele declarou, porque sabia que o havia
cometido conscientemente, apesar dos ensinos que recebera dos pais e na Escola
Dominical. Desse modo, insistiu que fosse cumprida a pena capital. Jovem como
era, e diante da morte, recusou enganar-se a si mesmo.
3. O hedonismo, termo grego hedonê
que significa "prazer", é a
teoria que sustenta que o melhor ou o mais proveitoso que existe na vida é a
conquista do prazer e a fuga à dor; de modo que a primeira pergunta que se faz
não é: "Isto e correto?", mas: "Traz prazer?" Nem todos os
hedonistas têm uma vida de vícios, mas a tendência geral do hedonista é
desculpar o pecado e disfarçá-lo, qual pílula açucarada, com designações tais
como estas: "é uma fraqueza inofensiva"; "é pequeno
desvio"; "é mania do prazer"; "é fogo da juventude".
Eles desculpam o pecado com expressões como estas: "Errar é
humano"; "o que é natural é belo e o que é belo é direito." é
sobre essa teoria que se baseia o ensino moderno de "auto-expressão".
Em linguagem técnica, o homem deve "libertar suas inibições"; em linguagem
simples, "ceder à tentação porque reprimi-la é prejudicial à saúde".
Naturalmente, isso muitas vezes representa um intento para justificar a
imoralidade. Mas esses mesmos teóricos não concordariam em que a pessoa desse
liberdade às suas inibições de ira, ódio criminoso, inveja, embriaguez ou
alguma outra tendência similar.
No fundo dessa teoria está o desejo de diminuir a gravidade do pecado,
e ofuscar a linha divisória entre o bem e o mal, o certo e o errado. Representa
uma variação moderna da mentira antiga: "Certamente não morrerás." E
muitos descendentes de Adão têm engolido a amarga pílula do pecado, adoçada com
a suposta suavizante segurança: "Isto não te fará dano algum." O bem
é simbolizado pela alvura, e o pecado pela negrura, porém alguns querem
misturá-los, dandolhes uma cor cinzenta neutra. A admoestação divina àqueles
que procuram confundir as distinções morais, é: "Ai daqueles que chamam o
mal bem, e o bem mal"
4. Ciência Cristã. Esta seita nega a realidade do pecado. Declara que
o pecado não é algo positivo, mas simplesmente a ausência do bem. Nega que o
pecado tenha existência real e afirmam que é apenas um "erro da mente
moral".
O homem pensa que o pecado é real, por conseguinte, seu pensamento
necessita de correção. Mas, depois de examinar o pecado e a ruína que são mais
do que reais no mundo, parece que esse tal "erro da mente mortal" é
tão terrível como aquilo que toda gente conhece por "pecado"! As
Escrituras denunciam o pecado como uma violação positiva da lei de Deus, como
uma verdadeira ofensa que merece castigo real num inferno real.
5. A evolução considera o pecado como herança do animalismo primitivo
do homem. Desse modo em lugar de exortar a gente a deixar o "homem
velho", ou o "antigo Adão", os proponentes dessa teoria deviam
admoestá-los a que deixassem o "velho macaco" ou o "velho
tigre"! Como já vimos, a teoria da evolução é antibíblica. Alem disso, os
animais não pecam; eles vivem segundo sua natureza, e não experimentam nenhum
sentido de culpa por seu comportamento.
O Dr. Leander Keyser comenta: "Se a luta egoísta e sangrenta pela
existência no reino animal for o método de progresso que trouxe o homem à
existência, por que deverá ser um mal que o homem continue nessa rota
sangrenta?" É certo que o homem tem uma natureza física, porém essa parte
inferior de seu ser foi criação de Deus, e é plano de Deus que esteja sujeita a
uma inteligência divinamente iluminada.
A origem do pecado
A origem do pecado jamais pode ser de Deus, pois Deus é Santo (1Pedro
1:16). Deus é Luz, e não há trevas nenhuma (1 João 1:5); Deus não pode ser
tentado pelo mal e a ninguém tenta (Tiago 1:13).
A origem do mal tampouco foi o homem. O homem foi criado a imagem de
Deus: "E criou Deus o homem a sua imagem; a imagem de Deus o criou"
(Gênesis 1:27). Foi criado perfeito: "Viu Deus tudo quanto tinha feito, e
eis que era muito bom" (Gênesis 1:31). A Bíblia diz: "Deus fez ao
homem reto" (Eclesiastes 7:29). Quando Adão e Eva foram criados, o mal já
existia no Universo.
Para se conhecer a origem do pecado, devemos retomar a queda do homem
descrita em Gn 3; e olhar atentamente algo que aconteceu no mundo dos anjos. O
Senhor Deus criou um número enorme de anjos e todos estes eram bons (Gn 1.31).
Porém, Lúcifer e legiões deles rebelaram contra Deus, pelo que caíram em
condenação. A época exata dessa queda não é indicada na Bíblia, mas em Jo 8.44,
o Senhor Jesus fala do diabo como assassino desde o princípio. O apóstolo João,
na sua primeira epístola diz que “o diabo peca desde o princípio” (1ª Jo 3.8).
A origem do
pecado aconteceu em Lúcifer
Ele disse: "Ele (satanás) foi homicida desde o princípio e não se
firmou na verdade, porque não há verdade nele, quando ele profere mentira, fala
do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (João 8:44), e
também: "O diabo peca desde o principio" (1 João 3:8).
O diabo era antes um querubim ungido para proteger (Ezequiel 28:14).
Diz a Palavra de Deus: "No monte santo de Deus estavas, no meio das pedras
afogueadas andavas"(Ezequiel 28:14). Apesar de tudo isso, ele disse em seu
coração: "Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus, exaltarei o
meu trono, e, no monte da congregação, me assentarei, da banda dos lados do
Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao
Altíssimo" (Isaias 14:13, 14).
Assim nasceu o pecado, como um pensamento no coração de Lúcifer. E
esse pensamento ele pôs em ação! Rebelou-se contra Deus, e foi lançado fora do
céu (Ezequiel 28:16-19).
Jesus disse para os seus discípulos que havia visto satanás, como
raio, cair do céu (Lucas 10:18). Desde então, o diabo tornou-se o adversário de
Deus. E satanás (em hebraico, satã) ou diabo (em grego, diablos) significa em
português: adversário, acusador. Ele era Lúcifer, isto é, Estrela da manhã,
filha da alva (Isaias 14:12). Mas degenerou-se, tornando-se o príncipe das
trevas (Mateus 12:24).
E Lúcifer possuía livre arbítrio, coisa que Deus sempre considera. Ele
abusou dessa extrema liberdade e sofreu as consequências. Pertenceu aos céus,
mas tornou-se o antônimo do bem, o opositor de Deus.
O Pecado da humanidade
Deus criou o homem “reto” (yaschar), que quer dizer: moralmente bom, e
possuindo a capacidade de escolher e seguir o que é justo e reto.
Adão era um ser reto e possui vida espiritual reta, isto é, era
nascido do alto. Deus soprou o fôlego de vida nele que envolveu com vida
espiritual. A Bíblia diz que no dia em que ele pecou morreu espiritualmente (Gn
2.15-17). Ao desobedecer a Deus deixou de desfrutar de união espiritual com
Deus. E para que ele morresse espiritualmente, era necessário que possuísse
vida espiritual, que seu espírito fosse ligado a Deus.
Durante o período indeterminado no qual Adão viveu antes da queda, ele
cumpriu a vontade de Deus. Por isso ele estava envolvido espiritualmente com
Deus (Gn 2.15). Adão recebia conselho e direção de Deus (Gn 3.8). Mas uma
proibição foi imposta a ele: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Na
realidade isto foi numa proporção extremamente inferior a todas as graciosas
instruções que vieram de Deus.
Os resultados seriam: ou o favor continuo de Deus, por motivo da sua
obediência; ou a imposição da penalidade da morte por motivo de sua
desobediência.
O terceiro capítulo de Gênesis oferece os pontos chaves que caracterizam a história espiritual do homem, as quais são: A tentação, a culpa, o juízo e a redenção.
1. A tentação: sua possibilidade, origem e sutileza.
(a) A possibilidade da tentação. O segundo capítulo de Gênesis relata
o fato da queda do homem, informando acerca do primeiro lar do homem, sua
inteligência, seu serviço no Jardim no Éden, as duas árvores, e o primeiro
matrimônio. Menciona especialmente as duas árvores do destino; a árvore da
ciência do bem e do mal e a árvore da vida.
Essas duas árvores constituem um sermão em forma de quadro dizendo
constantemente a nossos primeiros pais: "Se seguirdes o bem e rejeitardes
o mal, tereis a vida." E não é esta realmente a essência do Caminho da
Vida encontrada através das Escrituras? (Deut. 30:15.) Notemos a árvore
proibida. Por que foi colocada ali? Para prover um teste pelo qual o homem
pudesse, amorosa e livremente, escolher servir a Deus e dessa maneira
desenvolver seu caráter. Sem vontade livre o homem teria sido meramente uma
máquina.
(b) A origem da tentação. "Ora,
a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus
tinha feito." É razoável deduzir que a serpente, que naquele tempo
deveria ter sido uma criatura formosa, foi o agente empregado por Satanás, o
qual já tinha sido lançado fora do céu antes da criação do homem. (Ezeq.
23:13-17; Isa. 14:12-15.) Por essa razão, Satanás é descrito como "essa
antiga serpente, chamada o diabo" (Apoc. 12:9). Geralmente Satanás
trabalha por meio de agentes. Quando Pedro (embora sem má intenção) procurou
dissuadir seu Mestre da senda do dever, Jesus olhou além de Pedro, e disse,
"Para trás de mim, Satanás" (Mat. 16:22,23). Neste caso Satanás
trabalhou por meio de um dos amigos de Jesus; no Éden empregou a serpente, uma
criatura da qual Eva não desconfiava.
(c) A sutileza da tentação. A sutileza é mencionada como
característica distintiva da serpente. (Vide Mat. 10:16.) Com grande astúcia
ela oferece sugestões, as quais, ao serem abraçadas, abrem caminho a desejos e
atos pecaminosos. Ela começa falando com a mulher, o vaso mais frágil, que,
além dessa circunstância, não tinha ouvido diretamente a proibição divina.
(Gên. 2:16, 17.) E ela espera até que Eva esteja só. Note-se a astúcia
na aproximação. Ela torce as palavras de Deus (Vide Gén. 3:1 e 2:16, 17) e
então finge surpresa por estarem assim torcidas; dessa maneira ela,
astutamente, semeia dúvida e suspeitas no coração da ingênua mulher, e ao mesmo
tempo insinua que está bem qualificada para ser juiz quanto à justiça de tal
proibição. Por meio da pergunta no versículo 1, lança a tríplice dúvida acerca
de Deus.
1) Dúvida sobre a bondade de Deus. Ela diz, com efeito: "Deus
está retendo alguma bênção de ti."
2) Dúvida sobre a retidão de Deus. "Certamente não
morrereis." Isto é, "Deus não pretendia dizer o que disse".
3) Dúvida sobre a santidade de Deus. No versículo 5 a serpente diz,
com efeito: "Deus vos proibiu comer da árvore porque tem inveja de vos.
Não quer que chegueis a ser sábios tanto quanto ele, de modo que vos mantém em
ignorância. Não é porque ele se interesse por vós, para salvar-vos da morte, e
sim por interesse dele, para impedir que chegueis a ser semelhantes a
ele."
2. A Culpa.
Notemos as evidências de uma consciência culpada:
1) "Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que
estavam nus." Expressão usada para indicar esclarecimento milagroso ou
repentino. (Gên. 21:19; 2 Reis. 6:17.) As palavras da serpente (versículo 5)
cumpriram-se; porém, o conhecimento adquirido foi diferente do que eles
esperavam. Em vez de fazê-los semelhantes a Deus, experimentaram um miserável
sentimento de culpa que os fez ter medo de Deus. Notemos que a nudez física é
um quadro de uma consciência nua ou culpada.
Os distúrbios emocionais refletem-se muitas vezes em nossas feições.
Alguns comentadores sustentam que antes da queda, Adão e Eva estavam vestidos
com uma auréola ou traje de luz, que era um sinal da comunhão com Deus e do
domínio do espírito sobre o corpo. Quando pecaram, essa comunhão foi
interrompida; o corpo venceu o espírito, e ali começou esse conflito entre a
carne e o espírito (Rom. 7:14-24), que tem sido a causa de tanta miséria.
2) "E coseram folhas de figueira, e fizeram para si
aventais." Assim como a nudez física é sinal de uma consciência culpada,
da mesma maneira, o procurar cobrir a nudez é um quadro que representa o homem
a procurar cobrir sua culpa com a indumentária do esquecimento ou o traje das
desculpas. Mas, somente uma veste feita por Deus pode cobrir o pecado (Verso
21).
3) "E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela
viração do dia: e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus
entre as árvores do jardim." O instinto do homem culpado é fugir de Deus. E
assim como Adão e Eva procuraram esconder-se entre as árvores, da mesma forma
as pessoas hoje em dia procuram esconder-se nos prazeres e em outras
atividades.
3. O juízo.
(a) Sobre a serpente. "Porquanto fizeste isto, maldita serás mais
que toda a besta, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre
andarás, e o pó comerás todos os dias da tua vida." Essas palavras
implicam que a serpente outrora foi uma criatura formosa e honrada. Depois,
porque veio a ser o instrumento para a queda do homem, tomou-se maldita e
degradada na escala da criação animal. Uma vez que a serpente foi simplesmente
o instrumento de Satanás, por que deve ser punida? Porque é a vontade de Deus
fazer da maldição da serpente um tipo e profecia da maldição sobre o diabo e
sobre todos os poderes do mal. O homem deve reconhecer, pelo castigo da
serpente, como a maldição de Deus ferirá todo pecado e maldade; arrastando-se
no pó recordaria ao homem o dia em que Deus derribará até ao pó, o poder do
diabo. Isso é um estimulo para o homem: ele, o tentado, está em pé, erguido,
enquanto a serpente está sob a maldição. Pela graça de Deus o homem pode
ferir-lhe a cabeça — pode vencer o mal. (Vide Luc. 10:18; Rom. 16:20; Apoc.
12:9; 20:1-3, 10.)
(b) Sobre a mulher. "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente
a tua dor e a tua concepção; com dor terás filhos; e o teu desejo será para teu
marido, e ele te dominará" (Gên. 3:16). Assim disse certo escritor: A
presença do pecado tem sido a causa de muito sofrimento, precisamente do modo indicado
acima.
Não há dúvida que dar à luz filhos constitui um momento critico e
penoso na vida da mulher. O sentimento de faltas passadas pesa de uma maneira
particular sobre ela, e também a crueldade e loucura do homem contribuíram para
fazer o processo mais doloroso e perigoso para a mulher do que para os animais.
O pecado tem corrompido todas as relações da vida, e mui particularmente a
relação matrimonial. Em muitos países a mulher é praticamente escrava do homem;
a posição e a condição triste de meninas viúvas e meninas mães na Índia têm
sido um fato horrível em cumprimento dessa maldição.
(c) Sobre o homem. (Versos 17-19.) O trabalho para o homem já tinha
sido designado (2:15). O castigo consiste no afã, nas decepções e aflições que
muitas vezes acompanham o trabalho. A agricultura é especificada em particular,
porque sempre tem sido um dos empregos humanos mais necessários. De alguma
maneira misteriosa, a terra e a criação em geral têm participado da maldição e
da queda do seu senhor (o homem) porém estão destinadas a participar da sua
redenção.
Este é o pensamento de Rom. 8:19-23. Em Isaias 11:1-9 e 65:17-25,
temos exemplos de versículos que predizem a remoção da maldição da terra
durante o Milênio. Além da maldição física que se apossou da terra, também é
certo que o capricho e o pecado humanos têm dificultado de muitas maneiras o
labor e provocado as condições de trabalho mais difíceis e mais duras para o
homem. Notemos a pena de morte. "Porquanto és pó, e em pó te
tornarás." O homem foi criado capaz de não morrer fisicamente; teria
existência física indefinidamente se tivesse preservado sua inocência e
continuasse a comer da árvore da vida.
Ainda que volte à comunhão com Deus (e dessa maneira vença a morte
espiritual) por meio do arrependimento e da oração, não obstante, deve voltar
ao seu Criador através da morte. Visto que a morte faz parte da pena do pecado,
a salvação completa deve incluir a ressurreição do corpo, (1 Cor. 15:54-57.)
não obstante, certas pessoas, como Enoque, terão o privilégio de escapar da
morte física. (Gên. 5:24; 1 Cor. 15:51.)
Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três revelações de
Deus, que por toda a Bíblia figuram em todas as relações de Deus com o homem. O
Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o Deus do Pacto que entra em
relações pessoais com o homem (cap. 2); o Redentor, que faz provisão para a
restauração do homem (cap. 3).
(a) Prometida. (Vide Gên. 3:15.) (1) A serpente procurou fazer aliança
com Eva contra Deus, mas Deus por fim a essa aliança. "E porei inimizade
entre ti e a mulher, e entre a tua semente (descendentes) e a sua
semente." Em outras palavras, haverá uma luta constante entre o homem e o
poder maligno que causou a sua queda. (2) Qual será o resultado desse conflito?
Primeiro, vitória para a humanidade, por meio do Representante do homem, a
Semente da mulher.
"Ela (a semente da mulher) te ferirá a cabeça." Cristo, a
Semente da mulher, veio ao mundo para esmagar o poder do diabo. (Mat. 1:23, 25;
Luc. 1:31-35,76; Isa. 7:14; Gál. 4:4; Rom. 16:20; Col. 2:15; Heb. 2:14,15; 1
João 3:8; 5:5; Apoc. 12:7, 8, 17; 20:1-3, 10.) (3) Porém a vitória não será sem
sofrimento. "E tu (a serpente) lhe ferirás o calcanhar." No Calvário
a Serpente feriu o calcanhar da Semente da mulher; mas este ferimento trouxe a
cura para a humanidade. (Vide Isa. 53:3,4,12; Dan. 9:26; Mat. 4:1-10; Luc.
22:39-14,53; João 12:31- 33; 14:30,31; Heb. 2:18; 5:7; Apoc. 2:10.)
(b) Prefigurada. (Verso 21.) Deus matou um animal, uma criatura
inocente, para poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista por
causa do pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à morte, a fim
de prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
A origem do pecado
O terceiro capítulo de Gênesis oferece os pontos chaves que
caracterizam a história espiritual do homem, as quais são: A tentação, a culpa,
o juízo e a redenção.
1. A tentação: sua possibilidade, origem e sutileza.
(a) A possibilidade da tentação. O segundo capítulo de Gênesis relata
o fato da queda do homem, informando acerca do primeiro lar do homem, sua
inteligência, seu serviço no Jardim no Éden, as duas árvores, e o primeiro
matrimônio. Menciona especialmente as duas árvores do destino — a árvore da
ciência do bem e do mal e a árvore da vida.
Essas duas árvores constituem um sermão em forma de quadro dizendo
constantemente a nossos primeiros pais: "Se seguirdes o bem e rejeitardes
o mal, tereis a vida." E não é esta realmente a essência do Caminho da
Vida encontrada através das Escrituras? (Vide Deut. 30:15.) Notemos a árvore
proibida. Por que foi colocada ali? Para prover um teste pelo qual o homem
pudesse, amorosa e livremente, escolher servir a Deus e dessa maneira
desenvolver seu caráter. Sem vontade livre o homem teria sido meramente uma
máquina.
(b) A origem da tentação. "Ora, a serpente era mais astuta que
todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito." É razoável
deduzir que a serpente, que naquele tempo deveria ter sido uma criatura
formosa, foi o agente empregado por Satanás, o qual já tinha sido lançado fora
do céu antes da criação do homem. (Ezeq. 23:13-17; Isa. 14:12-15.) Por essa
razão, Satanás é descrito como "essa antiga serpente, chamada o
diabo" (Apoc. 12:9). Geralmente Satanás trabalha por meio de agentes.
Quando Pedro (embora sem má intenção) procurou dissuadir seu Mestre da senda do
dever, Jesus olhou além de Pedro, e disse, "Para trás de mim,
Satanás" (Mat. 16:22,23). Neste caso Satanás trabalhou por meio de um dos
amigos de Jesus; no Éden empregou a serpente, uma criatura da qual Eva não
desconfiava.
(c) A sutileza da tentação. A sutileza é mencionada como
característica distintiva da serpente. (Vide Mat. 10:16.) Com grande astúcia
ela oferece sugestões, as quais, ao serem abraçadas, abrem caminho a desejos e
atos pecaminosos. Ela começa falando com a mulher, o vaso mais frágil, que,
além dessa circunstância, não tinha ouvido diretamente a proibição divina.
(Gên. 2:16, 17.) E ela espera até que Eva esteja só. Note-se a astúcia
na aproximação. Ela torce as palavras de Deus (Vide Gén. 3:1 e 2:16, 17) e
então finge surpresa por estarem assim torcidas; dessa maneira ela,
astutamente, semeia dúvida e suspeitas no coração da ingênua mulher, e ao mesmo
tempo insinua que está bem qualificada para ser juiz quanto à justiça de tal
proibição. Por meio da pergunta no versículo 1, lança a tríplice dúvida acerca
de Deus.
1) Dúvida sobre a bondade de Deus. Ela diz, com efeito: "Deus
está retendo alguma bênção de ti."
2) Dúvida sobre a retidão de Deus. "Certamente não
morrereis." Isto é, "Deus não pretendia dizer o que disse".
3) Dúvida sobre a santidade de Deus. No versículo 5 a serpente diz,
com efeito: "Deus vos proibiu comer da árvore porque tem inveja de vos.
Não quer que chegueis a ser sábios tanto quanto ele, de modo que vos mantém em
ignorância. Não é porque ele se interesse por vós, para salvar-vos da morte, e
sim por interesse dele, para impedir que chegueis a ser semelhantes a
ele."
2. A Culpa.
Notemos as evidências de uma consciência culpada:
1) "Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que
estavam nus." Expressão usada para indicar esclarecimento milagroso ou
repentino. (Gên. 21:19; 2 Reis. 6:17.) As palavras da serpente (versículo 5)
cumpriram-se; porém, o conhecimento adquirido foi diferente do que eles
esperavam. Em vez de fazê-los semelhantes a Deus, experimentaram um miserável
sentimento de culpa que os fez ter medo de Deus. Notemos que a nudez física é
um quadro de uma consciência nua ou culpada.
Os distúrbios emocionais refletem-se muitas vezes em nossas feições.
Alguns comentadores sustentam que antes da queda, Adão e Eva estavam vestidos
com uma auréola ou traje de luz, que era um sinal da comunhão com Deus e do
domínio do espírito sobre o corpo. Quando pecaram, essa comunhão foi
interrompida; o corpo venceu o espírito, e ali começou esse conflito entre a
carne e o espírito (Rom. 7:14-24), que tem sido a causa de tanta miséria.
2) "E coseram folhas de figueira, e fizeram para si
aventais." Assim como a nudez física é sinal de uma consciência culpada,
da mesma maneira, o procurar cobrir a nudez é um quadro que representa o homem
a procurar cobrir sua culpa com a indumentária do esquecimento ou o traje das
desculpas. Mas, somente uma veste feita por Deus pode cobrir o pecado (Verso
21).
3) "E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela
viração do dia: e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus
entre as árvores do jardim." O instinto do homem culpado é fugir de Deus. E
assim como Adão e Eva procuraram esconder-se entre as árvores, da mesma forma
as pessoas hoje em dia procuram esconder-se nos prazeres e em outras
atividades.
3. O juízo.
(a) Sobre a serpente. "Porquanto fizeste isto, maldita serás mais
que toda a besta, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre
andarás, e o pó comerás todos os dias da tua vida." Essas palavras
implicam que a serpente outrora foi uma criatura formosa e honrada. Depois,
porque veio a ser o instrumento para a queda do homem, tomou-se maldita e
degradada na escala da criação animal. Uma vez que a serpente foi simplesmente
o instrumento de Satanás, por que deve ser punida? Porque é a vontade de Deus
fazer da maldição da serpente um tipo e profecia da maldição sobre o diabo e
sobre todos os poderes do mal. O homem deve reconhecer, pelo castigo da
serpente, como a maldição de Deus ferirá todo pecado e maldade; arrastando-se
no pó recordaria ao homem o dia em que Deus derribará até ao pó, o poder do
diabo. Isso é um estimulo para o homem: ele, o tentado, está em pé, erguido,
enquanto a serpente está sob a maldição. Pela graça de Deus o homem pode
ferir-lhe a cabeça — pode vencer o mal. (Vide Luc. 10:18; Rom. 16:20; Apoc.
12:9; 20:1-3, 10.)
(b) Sobre a mulher. "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente
a tua dor e a tua concepção; com dor terás filhos; e o teu desejo será para teu
marido, e ele te dominará" (Gên. 3:16). Assim disse certo escritor: A
presença do pecado tem sido a causa de muito sofrimento, precisamente do modo indicado
acima.
Não há dúvida que dar à luz filhos constitui um momento critico e
penoso na vida da mulher. O sentimento de faltas passadas pesa de uma maneira
particular sobre ela, e também a crueldade e loucura do homem contribuíram para
fazer o processo mais doloroso e perigoso para a mulher do que para os animais.
O pecado tem corrompido todas as relações da vida, e mui particularmente a
relação matrimonial. Em muitos países a mulher é praticamente escrava do homem;
a posição e a condição triste de meninas viúvas e meninas mães na Índia têm
sido um fato horrível em cumprimento dessa maldição.
(c) Sobre o homem. (Versos 17-19.) O trabalho para o homem já tinha
sido designado (2:15). O castigo consiste no afã, nas decepções e aflições que
muitas vezes acompanham o trabalho. A agricultura é especificada em particular,
porque sempre tem sido um dos empregos humanos mais necessários. De alguma
maneira misteriosa, a terra e a criação em geral têm participado da maldição e
da queda do seu senhor (o homem) porém estão destinadas a participar da sua
redenção.
Este é o pensamento de Rom. 8:19-23. Em Isaias 11:1-9 e 65:17-25,
temos exemplos de versículos que predizem a remoção da maldição da terra
durante o Milênio. Além da maldição física que se apossou da terra, também é
certo que o capricho e o pecado humanos têm dificultado de muitas maneiras o
labor e provocado as condições de trabalho mais difíceis e mais duras para o
homem. Notemos a pena de morte. "Porquanto és pó, e em pó te
tornarás." O homem foi criado capaz de não morrer fisicamente; teria
existência física indefinidamente se tivesse preservado sua inocência e
continuasse a comer da árvore da vida.
Ainda que volte à comunhão com Deus (e dessa maneira vença a morte
espiritual) por meio do arrependimento e da oração, não obstante, deve voltar
ao seu Criador através da morte. Visto que a morte faz parte da pena do pecado,
a salvação completa deve incluir a ressurreição do corpo, (1 Cor. 15:54-57.)
não obstante, certas pessoas, como Enoque, terão o privilégio de escapar da
morte física. (Gên. 5:24; 1 Cor. 15:51.)
4. A redenção.
Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três revelações de
Deus, que por toda a Bíblia figuram em todas as relações de Deus com o homem. O
Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o Deus do Pacto que entra em
relações pessoais com o homem (cap. 2); o Redentor, que faz provisão para a
restauração do homem (cap. 3).
(a) Prometida. (Vide Gên. 3:15.) (1) A serpente procurou fazer aliança
com Eva contra Deus, mas Deus por fim a essa aliança. "E porei inimizade
entre ti e a mulher, e entre a tua semente (descendentes) e a sua
semente." Em outras palavras, haverá uma luta constante entre o homem e o
poder maligno que causou a sua queda. (2) Qual será o resultado desse conflito?
Primeiro, vitória para a humanidade, por meio do Representante do homem, a
Semente da mulher.
"Ela (a semente da mulher) te ferirá a cabeça." Cristo, a
Semente da mulher, veio ao mundo para esmagar o poder do diabo. (Mat. 1:23, 25;
Luc. 1:31-35,76; Isa. 7:14; Gál. 4:4; Rom. 16:20; Col. 2:15; Heb. 2:14,15; 1
João 3:8; 5:5; Apoc. 12:7, 8, 17; 20:1-3, 10.) (3) Porém a vitória não será sem
sofrimento. "E tu (a serpente) lhe ferirás o calcanhar." No Calvário
a Serpente feriu o calcanhar da Semente da mulher; mas este ferimento trouxe a
cura para a humanidade. (Vide Isa. 53:3,4,12; Dan. 9:26; Mat. 4:1-10; Luc.
22:39-14,53; João 12:31- 33; 14:30,31; Heb. 2:18; 5:7; Apoc. 2:10.)
(b) Prefigurada. (Verso 21.) Deus matou um animal, uma criatura
inocente, para poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista por
causa do pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à morte, a fim
de prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
A natureza do pecado
Que é pecado? A Bíblia usa uma variedade de termos para expressar o
mal de ordem moral, os quais nos explicam algo de sua natureza. Um estudo
desses termos, nos originais hebraico e grego, proporcionará a definição
bíblica do pecado.
1. O ensino do Antigo Testamento.
O pecado considerado — As diferentes palavras hebraicas descrevem o
pecado operando nas seguintes esferas:
(a) Na esfera moral. As palavras usadas para expressar o pecado nesta
esfera são as seguintes:
1) A palavra mais comumente usada para o pecado significa "errar
o alvo". Reúne as seguintes idéias: (1) Errar o alvo, como um arqueiro que
atira mas erra, do mesmo modo, o pecador erra o alvo final da vida. (2) Errar o
caminho, como um viajante que sai do caminho certo. (3) Ser achado em falta ao
ser pesado na balança de Deus. Em Gên. 4:7, onde a palavra é mencionada pela
primeira vez, o pecado é personificado como uma besta feroz pronta para
lançar-se sobre quem lhe der ocasião.
2) Outra palavra significa literalmente "tortuosidade", e é
muitas vezes traduzida por "perversidade". É, pois, o contrário de
retidão, que significa literalmente, o que é reto ou conforme um ideal reto.
3) Outra expressão comum que se traduz por "mal", exprime o
pensamento de violência ou infração, e descreve o homem que infringe ou viola a
lei de Deus.
(b) Na esfera da conduta fraternal. A palavra usada para determinar o
pecado nesta esfera, significa violência ou conduta injuriosa. (Gên. 6:11;
Ezeq. 7:23; Prov. 16:29.) Ao excluir a restrição da lei, o homem maltrata e
oprime seus semelhantes.
(c) Na esfera da santidade. As palavras usadas para descrever o pecado
nesta esfera implicam que o ofensor usufruiu da relação com Deus. Toda a nação
israelita foi constituída em "um reino de sacerdotes", cada membro
considerado como estando em contato com Deus e seu santo tabernáculo. Portanto,
cada israelita era santo, isto é, separado para Deus, e toda a atividade e
esfera de sua vida estavam reguladas pela Lei da Santidade.
As coisas fora dessa lei eram "profanas" (o contrário de
santas), e o que participava delas se tornava "imundo" ou
contaminado. (Lev. 11:24, 27, 31, 33, 39.) Se persistisse na profanação, era
considerada uma pessoa irreligiosa ou profana. (Lev. 21:14; Heb. 12:16.) Se
acaso se rebelasse e deliberadamente repudiasse a jurisdição da lei da
santidade, era considerado "transgressor". (Sal. 37:38; 51:13; Isa.
53:12.) Se prosseguia neste último caminho, era julgado como criminoso, e tais
eram os publicanos, na opinião dos contemporâneos do nosso Senhor Jesus.
(d) Na esfera da verdade. As palavras que descrevem o pecado nesta
esfera dão ênfase ao inútil e fraudulento elemento do pecado. Os pecadores
falam e tratam falsamente (Sal. 58:3; Isa. 28:15), representam falsamente e dão
falso testemunho (Êxo. 20:16; Sal. 119:128; Prov. 19:5, 9). Tal atividade é
"vaidade" (Sal. 12:2; 24:4; 41:6), isto é, vazia e sem valor. O
primeiro pecador foi um mentiroso (João 8:44); o primeiro pecado começou com
uma mentira (Gên. 3:4); e todo pecado contém o elemento do engano (Heb. 3:13).
(e) Na esfera da sabedoria. Os homens se portam impiamente porque não
pensam ou não querem pensar corretamente; não dirigem suas vidas de acordo com
a vontade de Deus, seja por descuido ou por deliberada ignorância.
1) Muitas exortações são dirigidas aos "simples" (Prov. 1:4,
22; 8:5). Essa palavra descreve o homem natural, que não se desenvolveu, quer
na direção do bem, quer do mal; sem princípios fixos, mas com uma inclinação
natural para o mal, a qual pode ser usada a fim de seduzi-lo. Falta-lhe firmeza
e fundamento moral; ele ouve mas esquece; portanto, é facilmente conduzido ao
pecado. (Vide Mat. 7:26.)
2) Muitas vezes lemos acerca desses "faltos de entendimento"
(Prov. 7:7; 9:4), isto é, aqueles que por falta de entendimento, mais do que
por propensão pecaminosa, são vitimas do pecado. Faltos de sabedoria, são
conduzidos a expressar precipitados juízos acerca da providência divina e das
coisas além da sua compreensão. Desse modo precipitam-se na impiedade. Tanto
essa classe, como os "simples", são indesculpáveis porque as
Escrituras apresentam o Senhor oferecendo gratuitamente — sim, rogando- lhes
que aceitem (Prov. 8:1-10) — aquilo que os fará sábios para a salvação.
3) A palavra freqüentemente traduzida "insensato" (Prov.
15:20), descreve uma pessoa capaz de fazer o bem, contudo está presa às coisas
da carne e facilmente é conduzida ao pecado pelas suas inclinações carnais. Não
se disciplina a si mesma nem guia as suas tendências de acordo com as leis divinas.
4) O "escarnecedor" (Sal. 1:1; Prov. 14:6) é o homem ímpio
que justifica sua impiedade com argumentos racionais contra a existência ou
realidade de Deus, e contra as coisas espirituais em geral. Assim,
"escarnecedor" é a palavra do Antigo Testamento equivalente à nossa
moderna palavra "infiel", e a expressão "roda dos
escarnecedores" provavelmente se refere à sociedade local dos infiéis.
2. O ensino do Novo Testamento.
O Novo Testamento descreve o pecado como:
(a) Errar o alvo, que expressa a mesma idéia que a conhecida palavra
do Antigo Testamento.
(b) Dívida. (Mat. 6:12.) O homem deve (a palavra "deve" vem
de dívida) a Deus a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é
contração de uma dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser
perdoado, ou obter remissão da dívida.
(c) Desordem. "O pecado é iniqüidade" (literalmente
"desordem", 1 João 3:4). O pecador é um rebelde e um idólatra porque
deliberadamente quebra um mandamento, ao escolher sua própria vontade em vez de
escolher a vontade de Deus; pior ainda, está se convertendo em lei para si
mesmo e, dessa maneira, fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no
coração daquele exaltado anjo que disse: "Eu farei", em oposição à
vontade de Deus. (Isa. 14:13, 14). O anticristo é proeminentemente "o
sem-lei" (tradução literal de "iníquo"), porque se exalta a si
mesmo sobre tudo que é adorado ou que é chamado Deus. (2 Tess. 2:4-9.) O pecado
é essencialmente obstinação e obstinação é essencialmente pecado. O pecado
destronaria a Deus; o pecado assassinaria Deus. Na Cruz do Filho de Deus,
poderiam ter sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"
(d) Desobediência, literalmente, "ouvir mal"; ouvir com
falta de atenção. (Heb. 2:2.) "Vede pois como ouvis" (Luc. 8:18.)
(e) Transgressão, literalmente, "ir além do limite" (Rom.
4:15). Os mandamentos de Deus são cercas, por assim dizer, que impedem ao homem
entrar em território perigoso e dessa maneira sofrer prejuízo para sua alma.
(f) Queda, ou falta, ou cair para um lado (Efés. 1:7) no grego, donde
a conhecida expressão, cair no pecado. Pecar é cair de um padrão de conduta.
(g) Derrota é o significado literal da palavra "queda" em
Rom. 11:12. Ao rejeitar a Cristo, a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o
propósito de Deus.
(h) Impiedade, de uma palavra que significa "sem adoração, ou
reverência". (Rom. 1:18; 2 Tim. 2:16.) O homem ímpio é o que dá pouca ou
nenhuma importância a Deus e às coisas sagradas. Estas não produzem nele nenhum
sentimento de temor e reverência. Ele está sem Deus porque não quer saber de
Deus.
(i) O erro (Heb. 9:7) Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da
ignorância, e dessa maneira se diferenciam daqueles pecados cometidos
presunçosamente, apesar da luz esclarecedora. O homem que desafiadoramente
decide fazer o mal, incorre em maior grau de culpa do que aquele que é apanhado
em falta, a que foi levado por sua debilidade.
Consequências do pecado
O pecado é tanto um ato como um estado. Como rebelião contra a lei de
Deus, é um ato da vontade do homem; como separação de Deus, vem a ser um estado
pecaminoso. Segue-se uma dupla conseqüência: o pecador traz o mal sobre si
mesmo por suas más ações, e incorre em culpa aos olhos de Deus. Duas coisas,
portanto, devem distinguir-se; as más conseqüências que seguem os atos do
pecado, e o castigo que virá no juízo. Isto pode ser ilustrado da seguinte
maneira: Um pai proíbe ao filho pequeno o fumar cigarros, e fá-lo ver uma dupla
conseqüência: primeira, o fumar fá-lo-á sentir-se doente; segunda, ser
castigado pela sua desobediência. O menino desobedece e fuma pela primeira vez.
As náuseas que lhe sobrevêm representam as más conseqüências do seu pecado, e o
castigo corporal subseqüente representa o castigo positivo pela culpa. Da mesma
maneira as Escrituras descrevem dois efeitos do pecado sobre o culpado:
primeiro, é seguido por conseqüências desastrosas para sua alma; segundo, trará
da parte de Deus o positivo decreto de condenação.
1. Fraqueza espiritual.
(a) Desfiguração da imagem divina. O homem não perdeu completamente a
imagem divina, porque ainda em sua posição decaída é considerado uma criatura à
imagem de Deus (Gên. 9:6; Tia. 3:9) — uma verdade expressa no provérbio
popular: "Há algo de bom no pior dos homens." Maudesley, o grande
psiquiatra inglês, sustenta que a majestade inerente da mente humana
evidencia-se até mesmo na ruína causada pela loucura. Apesar de não estar
inteiramente perdida, a imagem divina no homem encontra-se muito desfigurada.
Jesus Cristo veio ao mundo tornar possível ao homem a recuperação completa da
semelhança divina por ser recriado à imagem de Deus. (Gál. 3:10.)
(b) Pecado inerente, ou "pecado original". O efeito da queda
arraigou-se tão profundamente na natureza humana que Adão, como pai da raça,
transmitiu a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar. (Sal.
51:5.) Esse impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens nascem, é
conhecido como pecado original. Os atos pecaminosos que se seguem durante a
idade de plena responsabilidade do homem são conhecidos como "pecado
atual". Cristo, o segundo Adão, veio ao mundo resgatar-nos de todos os
efeitos da queda. (Rom. 5:12-21.) Esta condição moral da alma é descrita de
muitas maneiras: todos pecaram (Rom. 3:9); todos estão debaixo da maldição
(Gál. 3:10); o homem natural é estranho às coisas de Deus (1 Cor. 2:14); o
coração natural é enganoso e perverso (Jer. 17:9); a natureza mental e moral é
corrupta (Gên. 6:5, 12; 8:21; Rom. 1:19-31); a mente carnal é inimizade contra
Deus (Rom. 8:7, 8); o pecador é escravo do pecado (Rom. 6:17; 7:5); é
controlado pelo príncipe das potestades do ar (Efés. 2:2); está morto em
ofensas e pecados (Efés. 2:1); e é filho da ira (Efés. 2:3).
(c) Discórdia interna. No princípio Deus fez o corpo do homem do pó,
dotando-o, desse modo, de uma natureza física ou inferior; depois soprou em seu
nariz o fôlego da vida, comunicando-lhe assim uma natureza mais elevada,
unindo-o a Deus. Era o propósito de Deus a harmonia do ser humano, ter o corpo
subordinado à alma. Mas o pecado interrompeu a relação de tal maneira que o
homem se encontrou dividido em si mesmo; o "eu" oposto ao
"eu" em uma guerra entre a natureza superior e a inferior. Sua
natureza inferior, frágil em si mesma, rebelou-se contra a superior e abriu as
portas de seu ser ao inimigo.
Na intensidade do conflito, o homem exclama: "Miserável homem que
eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (Rom. 7:24.) O "Deus
de paz" (1 Tess. 5:23) subjuga os elementos beligerantes da natureza do
homem e santifica-o no espírito, alma e corpo. O resultado é a bem-aventurança
interna — "justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo" (Rom. 14:17).
2. Castigo positivo.
"No dia em que dela comeres certamente morrerás" (Gên. 2:17)
"O salário do pecado é a morte" (Rom. 6:23). O homem foi criado capaz
de viver eternamente; isto é, não morreria se obedecesse à lei de Deus. Para
que pudesse "lançar mão" da imortalidade e da vida eterna, foi
colocado sob um pacto de obras, figurado pelas duas árvores — a árvore da
ciência do bem e do mal e a árvore da vida. Desse modo, a vida estava
condicionada à obediência; enquanto Adão observasse a lei da vida teria direito
à árvore da vida. Mas desobedeceu; quebrou o pacto de vida, e ficou separado de
Deus, a Fonte da vida.
Desde esse momento, teve a morte o seu inicio e foi consumada na morte
física com a separação da alma e do corpo. Mas notamos que o castigo incluía
mais do que uma morte física; a dissolução física era uma indicação do
desagrado de Deus, do fato que o homem estava sem contato com a Fonte da vida.
Ainda que Adão se tivesse reconciliado mais tarde com o seu Criador, a morte
física continuaria de acordo com o decreto divino: "No dia em que dela
comeres certamente morrerás." Somente por um ato de redenção e de
recriação o homem teria outra vez direito à árvore da vida que está no meio do
paraíso de Deus.
Por meio de Cristo a justiça é restaurada à alma, a qual, na
ressurreição, é reunida a um corpo glorificado. Vemos, então, que a morte
física veio ao mundo como castigo, e, nas Escrituras, sempre que o homem é
ameaçado com a morte como castigo pelo pecado, significa primeiramente a perda
do favor de Deus. Assim, o pecador já está "morto em ofensas e
pecados" e no momento da morte física ele entra no mundo invisível na
mesma condição.
Então no grande Julgamento o Juiz pronunciará a sentença da segunda
morte, que envolve "indignação e ira, tribulação e angústia" (Rom.
2:7-12). De maneira que "a morte", como castigo, não é a extinção da
personalidade, e, sim, o meio de separação de Deus. Há três fases desta morte:
morte espiritual, enquanto o homem vive (Efés. 2:1; l Tim. 5:6); morte física
(Heb. 9:27); e a segunda ou morte eterna (Apoc. 21:8; João 5:28, 29; 2 Tess.
1:9; Mat. 25:41). Por outro lado, quando as Escrituras falam da vida como recompensa
pela justiça, isso significa mais do que existência, pois os ímpios existem no
inferno.
Vida significa viver em comunhão com Deus e no seu favor — comunhão
que a morte não pode interromper ou destruir. (João 11:25, 26.) é uma vida que
proporciona união consciente com Deus, a Fonte da vida. "E a vida eterna é
esta: que te conheçam a ti só (em experiência e comunhão) por único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3). A vida eterna
é uma existência perfeita; a morte eterna é uma existência má, miserável e
degradada.
Notemos que a palavra "destruição", usada quanto à sorte dos
ímpios (Mat. 7:13; João 17:12; 2 Tess. 2:3), não significa extinção. De acordo
com o grego, perecer ou ser destruído, não significa extinção e sim ruína. Por
exemplo: que os odres "estragam-se" (Mat. 9:17) significa que já não
servem como odres, e não que tenham deixado de existir. Da mesma maneira, o
pecador que perece, ou que é destruído, não é reduzido ao nada, mas experimenta
a ruína no que concerne a desfrutar comunhão com Deus e a vida eterna. O mesmo
uso ainda existe hoje; quando dizemos: "sua vida está arrumada", não
queremos dizer que o homem está morto, e, sim, que perdeu o verdadeiro alvo ou
objetivo da vida.
CONTINUA...
SHALOM ADONAY
JOSÉ ALFINYAHU, Professor, Th.M em bíblia e Th.D em Teologia
Sistematica.
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